sexta-feira, 12 de novembro de 2010

estrelinha

Estava à espera do autocarro que me levaria a casa. Tinha a informação que avariara e por isso teria que fazer a viagem no horário seguinte. Quase uma hora depois.
Sentada, entediada e cheia de frio olhava distraidamente para o céu que já escurecera.
Ando um pouco inquieta porque preciso entregar documentos na agência de viagens que está a tratar da minha viagem a Luanda, mas...o tempo escasseia. Precisava de apresentar a vacina da febre amarela e o passaporte, entre outros. Quanto antes.
Como vêem não conto tudo aqui. Ninguém deu por nada e esta situação tem-me tirado o sono.
Sou desorganizada. Numa desorganização mais ou menos controlada. Não deito nada fora. Acumulo excedentes desnecessários e por isso me desorganizo ainda mais. Procurei a pasta onde supostamente estava o passaporte e o boletim da febre amarela. Não a encontrei. Assustei-me e ralhei comigo, naquela coisa muito em surdina: És sempre a mesma coisa maria clara. Que parva, que estúpida, que desleixada. Se não conseguires ir a Luanda por causa dos papéis é muito bem feita, patáti, patatá...
Esta semana sabia que tinha de encontrar os documentos. Entrava em casa e não tinha vontade nenhuma de me pôr à procura. E num faz amanhã o que deves fazer hoje o único trabalho que tive foi o de tentar pensar nos lugares prováveis para ter guardado a pasta. Mãos à obra que é bonito, nada.
Estava à espera do autocarro que não chegava. Lembrei-me do homem que me abordou no Parque Eduardo VII por causa das nuvens vermelhas e lilazes que se viam maravilhosas num pôr de sol, de fim de verão a que chamou dragões chineses e de repente uma estrela cadente riscou o céu, também ele roxo e vermelho nesse fim de tarde.
Como sempre, ocorreu-me um pedido. Como sou exagerada, não fiz um, nem dois. Fiz três. E parei porque percebi que estava a fazer batota. " Protege-me meu Deus. Protege os miúdos. E a minha viagem a Angola." Pensei de imediato que são tretas e que embarco nestas coisas porque não tenho mais nada que fazer ou pensar.
Chegou o autocarro que me levou para casa. Aqui chegada, deu-me um sono semelhante ao que tive quando a filha estava para nascer. A fuga à dificuldade. Eu conheço-me bem e não me consigo fintar. Feito o que era necessário fazer liguei o computador e pensei na minha amiga Milú que me diz sempre que entregue nas mãos de Deus. E como era conveniente, pensei de mim para mim que Deus ia indicar-me o caminho que me levasse ao meu passaporte, porque a vacina da febre amarela tinha-a encontrado no dia anterior.
Levantei-me para ir ao meu quarto. E fui direita ao sítio onde encontrei o passaporte.
E juro, lembrei-me da estrela cadente e da minha amiga Milú. Lembrei-me de Deus. E agradeci-Lhe.
Por causa do passaporte e da vacina não deixarei de ir a Luanda.
E só me apraz dizer que o que vale é que ainda há estrelas nos céus. Pelo menos nos meus pequenos céus ainda vão brilhando, satisfazendo e cumprindo os meus sonhos.

1 comentário:

milú disse...

viste????? só precisas de acreditar N'ELE