domingo, 4 de abril de 2010

Toc-Toc...


Toc-Toc, Toc-Toc...
Fazem os meus sapatos pretos.
De tira larga, que aperta com um botão, e salto grosso.
Gosto deles. Dão-me um andar seguro...quando vou à fonte, como a Leanor... e não só.
O meu andar para além de seguro é falador. Uma personalidade diferente, que os sapatos têm.
Conferem-me um poder emprestado e ocasional, porque, troco de sapatos, claro.
Ninguém ao ouvir toc-toc, toc-toc, percebe esse compasso de tempo.
E sou observada. Aliás, os meus pés, os meus ricos sapatitos, melhor dizendo. E fico assim reduzida, e bem, a uns pés calçados nuns sapatos pretos, que fazem toc-toc, toc-toc, com toda a propriedade, conferida por um qualquer sapateiro, se calhar, anónimo, introvertido, quem sabe, mudo...
E os olhos gélidos e inquisidores, duma mulher, reclamando por um silêncio que não existe nela, subiram até aos meus olhos divertidos e expectantes. Pareceu-me que os olhos falavam, como os meus sapatos.
Tinham uma acusação militarista. Esses olhares que por vezes se cruzam com o meu, noutras curvas e esquinas e que deixam escapar um adjectivo que bocas várias já têm soltado assim como que a brincar. GENERALA.
E os meus pés que nunca marcharam, a minha mão que nunca fez continência e o meu coração que nunca morreu de amores por um militar, vêem-se assim recebendo nos ombros, umas divisas, de um posto honroso ( ? ) sem sequer eu ter feito a recruta...

1 comentário:

anónimo disse...

Boa tarde...generala!Apresenta-se o praça de serviço.