sexta-feira, 16 de abril de 2010

Despertar livre

Sonhei que era menina. Candengue, do tempo da Sebastiana. Dos sotaques e do funge em bolinhas, devorado na esteira junto da lavadeira da casa e suas filhas. Do tempo da avenida só ter asfalto até às Bombas da Mobil e padaria.
De um tempo que corria atrás da Diana, minha princesa preta e branca, rainha do meu coração...
Naquele tempo, na minha rua, os cães eram todos Bolinha, Boby, Nero, Benfica, Laika, Diana ( eu bravava quando os macacos de imitação, baptizavam os seus rafeiros de diana, como a minha). Isto se os cães eram pretos, porque se eram brancos chamavam-se Lisboa, Porto, e outros, a apelar à saudade da santa terrinha.
Todos, da cidade do asfalto e da terra batida, do muceque e da baixa, mas mesmo todos conheciam pelo menos duas palavras da terra. Kuata e Tunda ( morde e sai, vai embora ).
A minha querida Diana, conhecida da rua toda, mais do que eu, era preta e branca. Com malhas pretas lustrosas e brilhantes dos banhos que a chuva dava e as mangueiradas na celha cheia de espuma de " Extra ", ou creolina, por causa dos bichos.
A Diana não era caseira e gostava da sua independência. Fugia lá de casa e da minha protecção ( ingrata ) e eu passava os dias na rua à procura dela.
Quando me viam descalça, com ar de zangada, correndo na rua, perguntavam-me: Onde é que vais Clarita? e eu invariavelmente respondia amuada: Vou buscár á Diána ná pádária...
E repetia vezes sem conta este abrir de vogais, da aprendizagem da esteira, que avizinhava com o muceque Marçal, ali mesmo ao pé da porta, por detrás da avenida, porque todos gostavam de me ouvir falar no sotaque da terra e repetiam também a pergunta.
Esta noite, fui de novo procurar á Diána ná pádária, descalça e emburrada, franzindo a testa e esticando a boca num beiço amuado. E dancei descalça no meio da rua de terra vermelha, o semba, nos rádios de pilhas, do quintal dos vizinhos, e voltei a olhar a chaminé da padaria, deitando fumo para mais uma dia de pão de bicos, espanhol, dos sábados à tarde, da minha alegria. E com a Diana nos braços, voltei para casa...
Acordei livre...

6 comentários:

Anónimo disse...

a minha cadela tinha 1 nome mais pomposo era a LASSIE k nós pronunciavamos LACI......

enquanto sonhas e não sonhas aki com a banda vê se tratas de desblokear o telelé,. não me apareças outra vez com ele blokeado. Tu andas eternamente atras de cadelas e gatas ingratas....kem te manda arranjar assanhadas?????mais valia teres cães e gatos.............ao menos já se sabe k esses são infiéis por natureza e fogem quando menos se espera...............

Maria Clara disse...

Kamba amiga...muito devagar com o andor que o santo é pesado...
Enquanto o pau vai e vem folgam as costas, nunca ouviste dizer? e por aí fora, nos ditados que me servem para disfarçar outras ditos. Hoje a saudade é bueeeeeeeeeeeeeeeeeeés!
Acordei livre mas já me sinto a ser aprisionada pela infância, adolescência e pelos dias de regresso...isto aqui é difícil, amiga, nas sextas-feiras de desconsolo e chuva eu queria enrolar-me na posição fetal e ser apenas espírito vagueando pelo passado bom e puro que me fez gente assim, deste jeito chorão. Não sei porquê mas ando demasiado sensível e a lágrima insiste em cair...mas não é de dor, é mesmo de saudade de filho,da terra, de amiga e outras...do que não há, do que houve, de...MIM. Beijos, grandes.

olharbiju disse...

Olá.
Adorei esta dissertação. O texto faz sonhar ou reviver tempos passados.
A minha cadelinha em Angola, chamavasse "negrita", por ser toda pretinha.
Cá temos o nosso adorado Luky.
Bjnhos e muito sol para cortar a saudade.
bjnhos.
alice

Anónimo disse...

KANDENGUE escreve-se com K, kwata, com W, num é prutuguês é mbora kimbundu......

kamba disse...

keria te contar 1 mambo lá atrás mas fikei 1 pouco assustado nakela palavra «nostalgia», mi intimidou, num sei se é kê ou kem, prontus, deixa tar vou te contar o mambo

uma garina escreveu então anssim no papel A CADEIRA NÃO TÊM CABECEIRAS......chefe dela lhe perguntou então você num sabe ki têm é plural? si escreveres então as cadeiras vais fazer como?
olha só o ki a dama respondeu

LHE PONHO LÁ 2 (dós) CHAPÉU.....

tamo muinto mal no prutugu~es

Maria Clara disse...

Xé, tá demais... até que adivinho onde e como foi essa estória. Essas mininas TÊÊM que aprender português...num basta ser bonitas...ihihihihih...Uauê, a banda tá ficar matumbeeeeê...te cuida, se chego dezembro e te vejo escrever com 2 chapéus te interno no hospital de s. paulo, para teu castigo, ou será que agora é hospital de sambizanga? Num vale a pena kamba eu sei o nome do hospital, tou só brincar com a tua chipala...munguoê...