segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vizinho

Ser vizinho às vezes é ser amigo, outras, conhecido, e outras ainda desconhecido próximo.
Antigamente, ser-se vizinho significava ter a chave de casa do outro para qualquer eventualidade, um ramo de salsa, um limão, ou um ovo, para dar. Ajudar a carregar as compras, ou informar o parente do vizinho que chega inesperadamente, que o vizinho saiu, onde foi e o que foi fazer.
Apenas tive vizinhos destes na minha rua. Na minha cidade. Lá onde eu nasci. E são meus vizinhos até hoje. São amigos. Ela, a matriarca, é a minha mãe de África que me abre os braços quando volto a casa.
Ser vizinho às vezes é para sempre, outras nem sempre nem nunca, e outras, nem o nome lhe fixamos.
Hoje pela manhã, saiu-me ao caminho, um homem que foi menino já eu era mãe de filhos.
Doente, com vários internamentos compulsivos, num tempo em que eu exercia funções em Torres Novas e por via disso e por morar perto da minha casa se cruzava comigo com frequência. Não fomos vizinhos. Quase... Morava num bairro separado da minha casa por uma rua. Mas vagueava pelas ruas próximas, como zumbi quando estava medicado e como animal com cio quando não estava compensado. Passaram mais de vinte anos. Mudei de casa. Mudou muita coisa...
Passo pelo bairro todos os dias a caminho do autocarro. De vez em quando vejo-o ao longe. Sempre sozinho e de cara no chão, como se contasse as pedras da calçada ou não suportasse o peso da vida.
Hoje, pela manhã, saiu-me ao caminho.
Sorridente, levantou o rosto, e olhou-me, olhos nos olhos.
Bom dia vizinha. Está boa?
Esperou que eu respondesse e terminou, dizendo: Bom trabalho.
Pois...tal como alguns amores, há vizinhos eternos. Porque estou na sua eternidade não o sei, mas fui envolvida por uma onda de ternura e de sol que raiou logo pela manhã...

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