terça-feira, 13 de abril de 2010

Colectivamente ou não

Faço meus, os momentos, que são reciclagem de tempos alheios.
Fotocópias que acumulo.
Junto letras, construo livros e histórias, enredos, amores e também desamores que não são meus. Descubro imagens.
Desejo os desejos deles e viajo nos seus barcos. Oiço as suas músicas, toco nos pianos que compraram, e ensaio danças do ventre como eles. Sinto os seus reumáticos e choro as suas lágrimas. Mergulho nas suas águas e beijo os mesmos lábios. Falo a mesma linguagem e espero no mesmo muro. Tomo-me das suas dores...
Copio-os, copio como eles..
Não me revejo nesta decalcomania quase perfeita e rejeito a personalidade colectiva em que me enfeito e que me é oferecida. Pedaços, farrapos, grinaldas, lantejoulas, brilhantes, tudo dispo, para encontrar o meu momento sem par, sem voz, sem espanto e sem dor.
Singularmente só. Apenas um tempo verdadeiramente meu.

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