Ainda a propósito da minha ida ao Porto, no domingo de Carnaval resolvemos almoçar em Matosinhos. A Amélia conhece os restaurantes onde se come peixe fresco, do mar. Na rua, esperámos vez, enquanto observávamos o assador assando várias espécies de peixe e defumando para cima de nós o cheiro intenso a sardinhas.
Tal como no " Pedro " em Peniche ou no " Toucinho " em Almeirim, na busca de sopa da pedra, cujas listas chegam a fazer alguns desistirem e procurarem um espaço mais rápido e calmo. Não melhor, concerteza.
As sardinhas, enormes e brilhantes faziam crescer água na boca. Que saudades do Verão...de Peniche, porque sardinhas para mim é em Peniche.
Mas bem sabíamos que só podiam ser congeladas e eu esqueci.
Quando finalmente a menina nos chamou e indicou a mesa, para ali nos dirigimos sem hesitar. Tarde e más horas, o estômago e o apetite reclamavam impacientemente.
Junto à nossa mesa, ao fundo da sala, qual mesa para encontros mais íntimos e discretos, não era o nosso caso, uma mesa para dois, onde almoçava um casal, e que era concerteza o caso deles. Comiam sardinhas.
Uma das minhas companhias e porque não tem qualquer tipo de problema em abordar alguém nestas circunstâncias, perguntou-lhes se as ditas sardinhas estavam boas, pois que eram congeladas. Depressa ouvimos uma resposta rápida e gentil. Chegando a insistir na sua prova, empunhando a travessa e dizendo fazer questão. Ele, um homem com bom ar, na casa dos 50 a 60 anos e ela talvez nos 50, mais reservada ou indiferente.
Não provei a sardinha oferecida, mas pedi-as, para meu deleite (?). Sabiam às enguias que se vendem na Murtosa, em barricas, envinagradas e quase secas, como que em conserva, mas comeram-se. No fim da refeição dos dois vizinhos do lado, estes, fizeram questão de nos falarem e se acaso os tivéssemos convidado para sentar, acho que ainda agora estaríamos a discutir quem era mais cidadão do mundo. Quem conhece mais cidades, mais costumes, quem gosta mais do quê.
Um porque até de Marrocos gosta, quanto mais de Lisboa, outra porque tem casa na Foz, um luxo, e adora o Porto embora viva em Lisboa, no Parque da Nações, claro né?, e seja dona de um SPA, ou uma loja de massagens manhosa?
Bem, acabou por ser divertido o estudo feito por nós destas duas espécimes. Não nos deu grande trabalho porque eram óbvios como o são todos os homens que se intitulam cidadãos do mundo. Normalmente não passam de uns provincianos mentais, vaidosos e arrogantes. Está na moda esse chavão, como se isso fosse uma mais valia ao que exibem, normalmente o físico e a abordagem galanteadora. Como se nós, os que os ouvimos fossemos destituídos.
Uma coisa é certa, ao fim de uma semana ainda relembro este episódio, no mínimo diferente e estranho bem como o breve encontro com pessoas desconhecidas e que não fogem do lugar comum.
Ele, o tal cidadão do mundo (?), a fazer lembrar alguém que conheci e perdi de vista no meu mundinho pequenino, e ela, uma mulher fria na postura, mas ansiosa de dar nas vistas, pedindo por favor que gostem dela.
Quem seriam estas pessoas e porque raio nos caíram na travessa de sardinhas?
Há domingos assim, quando três pessoas se juntam para comerem peixe e beberem vinho num qualquer restaurante de Matosinhos em época de pôr a máscara e encarnar uma personagem que pode ser a nossa, no resto do ano.
Repetiria com todo o gosto, no Carnaval ou não.
2 comentários:
Como está bonito este texto, Clarinha......
sabe bem comer sardinhas, se bem que só como duas ou três, não mais do que isso. beijos
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