Vi o Pedro na televisão. É o segundo do lado esquerdo, de quem olha a fotografia. Reconheci o seu rosto e o jeito de falar.
Conheço o Pedro desde que nasceu.
Quando conheci a sua mãe, pai e irmã, estava ele feito feto numa barriga muito grande que a mãe exibia. Depois, foram muitos anos. Diariamente. A vê-lo crescer. Foram festas, reuniões, convívios, espetáculos, rotinas.
Por força de circunstâncias várias, algumas alheias a mim, outras a vida a levar para mais longe pessoas da minha rotina diária, profissional e social, deixei de privar com esta família e sobretudo com a mãe do Pedro que foi só a magistrada com quem mais gostei de trabalhar. Com quem aprendi muito e sobretudo com quem partilhei momentos altos da minha profissão, como por exemplo, após um dia de trabalho, começar a ouvir presos em primeiro interrogatório, às seis da tarde e parar às seis e meis da manhã. Sendo que eu e as magistradas éramos mulheres. A audição de sete detidos, homens e mulheres, gente muito complicada. Ou ainda um julgamento de vinte e dois arguidos, por tráfico de droga, e que demorou quase um mês, com mais de duzentas pessoas para serem ouvidas.
Ao longo de cerca de doze a treze anos houve uma convivência para além do tribunal que permitiu conhecer o Pedro e vê-lo crescer, bem como à sua irmã que tinha uma actividade lúdica comum a uma das minhas crias.
Estivemos todos juntos num casamento há cerca de cinco anos. Ficámos na mesma mesa. O Pedro já homem feito. A sua mãe que eu não via já há algum tempo, eu por ter sido promovida e ter ido para Alcanena e ela porque foi promovida e foi para Lisboa.
Depois desse dia, nunca mais os vi. Falei com a mãe do Pedro há pouco tempo e ao telefone.
Hoje vi o Pedro. Na televisão. Não por ser filho de quem é, mas poderia ter sido esse o motivo e seria um bom motivo, mas porque faz parte do grupo " Os Golpes ".
Fiquei surpreendida. Sabia que fazia parte de uma banda. E que vieram dar um concerto a Torres Novas, sua terra natal. Mas não sabia o nome da banda.
Já aqui postei uma música dessa banda que gosto bastante.
Fiquei feliz. Por ter visto o Pedro, filho da magistrada que mais admiro profissionalmente e de quem tenho gratas memórias. O miúdo que diariamente ia ao tribunal, que foi colega dos meus filhos na escola, que estava nas nossas festas de natal, ou encontros fora do âmbito profissional mas por via disso. Que saiu de torres novas para fazer a faculdade e que ficou por Lisboa onde a mãe também vive.
Fiquei feliz porque o Pedro, fez-me voltar atrás no tempo e lembrar um tempo em que todos éramos felizes, e que funcionários, magistrados e advogados funcionavam como família e tudo era muito mais simples e honesto.
Sei que nunca mais ouvirei Os Golpes sem que me lembre do Pedro e da sua mãe M.H.F.
E lembrar-me significa sentir um grande orgulho por ter privado com estas pessoas.
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