Pitanga IV

Hoje foi dia de caça. Às quintas-feiras.E a minha Pitanga, parecia estar a advinhar.
De casa ouvem-se os tiros de caçadeira que ecoam no vale que tenho de fronte da minha casa.Será que há no prédio algum furão para apanhar gatos? O que sei é que hoje resolveu despedir-se de mim à porta. Pois claro.E eu cheia de pressa para apanhar o bendito autocarro, mas desta vez em sentido contrário, rumo á Formação.A curiosidade dela, o chamamento do campo em dia de caça, custou-me a viagem às 8,20 horas.Eu tinha deixado tudo como il faut. Água, comida seca, que não come, e de presente,uma latinha boninha e cheirosa, que estou a estragá-la de mimos, mas nesta fase da vida em que já não sou bem mãe, mas avó, é o que estas fazem, estragá-los de mimos, só que se assumo uma de avó, não posso contar com a mãe. Fica orfã, e portanto estou sempre a perder. A D. Pitanga,hoje portou-se mal, foi uma gata má e merecia ficar de castigo. Assim que abri a porta, correu, não para mim, não fosse eu pensar que sim, mas para fora. Sosseguem, manos desta menina muito feia.Não abanem a cabeça como que a dizerem " eu já sabia ", como se não fosse capaz de tomar conta de gente. Claro que sou e de felinos hei-de aprender ou eu não me chame Maria Clara.
Mas não foi nada grave. Não chegou sequer a descer o primeiro lance de escadas. Ficou tão assustada quanto eu. Nunca me ouvira gritar, ralhar, praguejar.
Percebi que todo o cuidado é pouco e esta bichana vai dar-me água pela barba.