Não gosto de fiscais. De homens de fato azul escuro, camisa azul clara e gravata azul assim-assim. Homens pequenos, que não me levem a mal, mas isto tudo e a faltar-lhes altura é a cerejinha verde, em cima do bolo sem açúcar. Estes homens nunca são grandes...coisas. O poderzinho mesquinho conferido pelo degrau que insistem em subir, acima de nós, fá-los descer mais baixo na minha consideração, que a relva aparada. Por isso o rótulo. Não sei se mal, mas paciência. É visceral. Não gosto e pronto. Quer dizer, não é, pronto que embirro, e não sei explicar. Claro que sei. É pela atitude igual, sempre. O ar assumido a contrastar quase sempre com o tamanhinho minúsculo de quem se pôe em bicos de pés e se não vai pelo jeito, nem tentam, vai pela força. É essa força que me faz crescer uma coisa cá dentro, que me estou sempre a pôr a jeito de me aborrecer. Quando era pequena e via entrar pela loja dentro, um par de criaturinhas destas, fiscais da fiscalização económica, ficava possessa e ia jurar que os meus ódios de estimação nasceram e se alimentaram dia após dia, ano após ano, vendo-os como sangue-sugas, tirando vantagem de tudo até das cervejas que bebiam, porque, ai que sede, que uma cuca geladinha calhava bem agora, ou embrulhe-me um bacalhau graúdo para levar para a patroa arranjar para o Natal. E o prejuízo, ficava o sô Santos com ele, que após uma espreitadela pela goiabada que estava na vitrine e devia estar no frio, ou o preço da massambala ou painço, que desaparecera, saiam de fininho sem sequer perguntarem por contas. Porém deixando instalado o pânico. " Para a próxima queremos tudo em ordem. Não escapa ". Não gosto de fiscais. Ganhei-lhes azedume desde esse tempo. Arrogância e prepotência são palavras que envergam sem pudores, como a pele de cordeiro em corpo de lobo. Estava eu escrevendo no meu caderno de apontamentos quando subitamente vejo uma maquineta estendida para mim. Olhei e era um dos meus homens aqui descrito, e com o rigor próprio de quem já viu muito disto ao longo da vida... De novo? perguntei. Ainda agora mostrei o bilhete a um colega seu, no Saldanha. Ainda agora não, respondeu-me pondo-se em bicos de pés, pendurado na máquina e no varão mesmo ao meu lado. Eles entraram na Avenida da República, disse-me antipaticamente. Então e acha pouco? Ando tanto de autocarro e nunca mostrei o bilhete e agora por duas vezes. É desagradável. - Olhe, quando entrei para este serviço, dizia ele empertigado, olhando para mim e para uma plateia indignada como eu, éramos 280. Passávamos tudo a pente fino. As pessoas desbituaram-se é o que é. Porque os senhores deixaram de aparecer concerteza, respondi-lhe certa que encerrava a conversa ali. Trabalhamos todos os dias minha senhora. Ok, disse enfadada. Salvou-me desta criatura antipática, o Save me que saía do meu MP4 e de que eu sou fã. Ele cansou-se de mim e continuou massacrando os restantes. Não gosto de fiscais e acho que tenho razão para não gostar. Como é que chovem no molhado numa tarde de 6ª feira, feriado, com os autocarros a meio gás? C'um caneco! E naquelas 2ªs feiras apinhadas de gente, aonde é que eles andam? Não acredito nisto. Como é que passadas que foram duas ou três paragens, esta criaturinha aparece a fazer o mesmo que os outros já tinham feito???
sábado, 23 de abril de 2011
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