domingo, 10 de abril de 2011

salada, fruta e chocolate

Acordei a pensar numa salada. Coisa simples e apetitosa. Que não desse muito trabalho. O tempo chama. Apetece. Depois de uma semana quase que só a líquidos, cheguei ao sábado pronta para uma moamba de galinha e um peixe grelhado com feijão de óleo de palma. E se a intenção foi essa, a prática disse-me que apesar de conseguir fazer líquidos durante cinco dias, há um danado de um apetite para o pecado da gula que só foi morto quando me agonizaram a alma. A alma, essa recuscitou e fez muito bem, que não tenho feitio para viver sem alma, o apetite podia ter ficado agonizante por tempo indeterminado, mas não. Sempre pronto para a asneira e com dentes até às orelhas. Bem dizem a Ana e a Lena que já pouco respeitam as minhas dietas e me acenam com jantares faustosos, e fazem pausas de uma semana e ameaçam recomeçar os convites para favas, bifes do Central, sushi em Santarém, vejam lá que me querem levar para Santarém, e eu já nem me importo, até deixo, lanches em Fátima, jantares na Nazaré, enfim, um cem número de exageros que nós que já não vamos para novas não devemos, mas queremos cometer. Tudo em nome do convívio (?). Ah pois é. Este desgraçado a pagar por toda esta vontade de comer que não sei porque sempre fui assim e que voltas dá a minha vida que não me misturo com quem só come alfaces para lhe seguir os passos. O dia quente, o sol agradável, o MP4 sempre a bombar, hoje mais do que sempre, Paulo Flores a cantar " o que é que fica ", pé no chinelo, atravessei o viaduto recebendo algumas businadelas. Coitados! Porque razão há homens que businam à passagem das mulheres? O que será que passa pela cabeça deles? O que acrescenta, esse gesto? Eu já não tenho idade para businadelas. Sou rápida na resposta, muda e inexpressivamente gestual. Só eu sei o gesto que lhes faço com os dedos, e as palavras, um churrilho que ficam por dizer mas que ecoam na minha mente que até doi. Nem a mãe escapa...Entro no Pingo Doce, procuro um cesto de rodas e inicio a minha contribuição para o consumismo. Um pacote de rúcula, outro de alfaces várias, um de quejo 3 sabores, tomate anão, uma lata de azeitonas, uma embalagem de salmão fumado, atum, delícias do mar, mangas, morangos, meloa, uma tablete de chocolate de culinária, um pacote de natas, tostas, coca-colas zero. O meu almoço está comprado. Vou para a caixa. A fila é grande. Escolho a que tem menos gente. Sempre que isso acontece, há um problema qualquer que me faz arrepender da escolha. Hoje não fugi à regra. À minha frente uma criatua depois de ter comprado meio supermercado, se calhar tem algum familiar grego que a aconselhou a comprar tudo o que a sua vista alcançasse não fosse o bicho papão interferir na sua economia doméstica chegando ao pormenor de racionar as idas ao supermercado, mas dizia eu, depois de um exagero de compras, quis um recibo, o que deixou a menina da loja desnorteada, que já não sabia se sabia escrever, fazer chamadas à caixa central ou desculpar-se perante uma fila nervosa e impaciente. Eu ali mesmo à frente dela, mantive-me tranquila e fui obeservando-a. Cabelo gorduroso e cor de burro quando foge, bochechas gordas, olhos pequeninos e verdes, unhas vermelhas com verniz por remover mas a estalar em cada um dos dedos, e suspirando constantemente. A colega entretanto chegou, ajudou e finalmente um peso saltou das suas costas e eis que me pareceu ter ouvido mal: Xiça, já está!!!! disse ela. Olha se eu começo a atender os utentes que se dirigem ao balcão do tribunal com um xiça, penico, chapéu de coco?! Isso é que era, o livro amarelo sem descanso. A seguir, olhou para mim, sorriu num sorriso apagado pelo aparelho nos dentes que exibia descaradamente e papagueou um bom dia, quase tarde, recomeçando a sua função. E eu que hoje estou em estado de graça, encolhi os ombros, sorri para o meu reflexo e já só queria ir para casa preparar a minha salada e o meu fondue de chocolate e frutas. E se o queria, melhor o fiz. Hoje é domingo e o fim da tarde ainda não me acenou.

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