A diferença, como da noite, do dia, torna a minha noite assustadora e fazia do meu dia, uma aventura.
Era o tempo da estação das chuvas e do doce cacimbo. Era o tempo das quedas, dos cortes de cacos nos pés, do paludismo, do sarampo e da papeira, das bexigas malucas e das gripes. Era a mãe preocupada. O pai atento e nervoso. O avô que ainda não partira para sul, ali no deserto, trazendo-me presentes e prometendo passeios na carrinha azul. Era o tio e a tia, visitando-me. Eram os meninos, com quem brincava, impacientes e tristes. Era até o mano Zé, excitado com o corropio lá na casa por causa das maleitas de que era vítima. Era a minha lavadeira.
Era eu que passava de maria clara a clarita...
E o pêssego em calda ( hoje brrrrrr), as canjas de borracho ( que nojo ) e os bolos da Royal.
À distância de tantos cacimbos espirrados e tossidos, era um tempo tão ameno.
Quem me dera fazendo a viagem a esse regresso...
Os pés estão pesados. O coração fraco. No peito guardei dores e males. A pele parece de galinha e o queixo quer tremer. Não sei se de medo se de frio. E os pulmões...afinal aquelas coisas esponjosas que nos fazem respirar portaram-se mal comigo. Se calhar pûs-me a jeito, como sempre, para tudo, o que é uma fraqueza que tenho, não sei se porque gosto de arriscar se porque não quero perder mais.
Acho que ainda não estou " mali mali " de forma a desanimar e fazer doações, preparar heranças e deixar escritos, mas estou muito cansada de arrastar esta alma num corpo enfermo e queria voltar ao pêssego em calda e às canjas de borracho.
Se ao menos as minhas cerejas amadurecessem!...
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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2 comentários:
Desejo.te rápidas melhoras. Senti muito a falta dos teus textos, no blog.Bjos.
Tu és forte. E as cerejas estão quase aí.beijos
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