domingo, 23 de maio de 2010

Algemas


Isto são mãos algemadas. Ah, pois é...
E não fui buscar as algemas a nenhuma loja de prazer sadomasoquista. Do mal ( ? ) o menos.
Também não senti o metal frio, agressivo e humilhante, nos meus braços.
Mas, como sou pródiga de imaginação, desenhei-as claustrofobicamente à volta dos meus ricos pulsos e não é bom. Asseguro-vos.
E não fui só eu. Um batalhão de " artistas " sem grande arte para o efeito mas com o jeito básico para o julgamento ter-me-à visto aos quadradinhos. Até que há quadros giríssimos , a óleo, com a técnica do quadradinho, mas pronto...isso são outras habilidades que eu não tenho e ia borrando a pintura, quando, no Continente do Vasco da Gama, na caixa, à minha passagem, o alarme apitou e a luzinha acendeu vermelhona. Eu que raramente coro, ontem, não sei se fiquei vermelha, mas que devo ter ficado sem cor, lá isso, concerteza. A Paula, minha caçula é que saberá dizer. Só me recordo da voz dela dizendo ao longo de todo o processo da minha " detenção ". Mana tem calma...
Não foi uma detenção, de mandado assinado pelo juiz, claro. Ninguém me deu voz de prisão. Só aquela delicadeza profissional do segurança dizendo-me: queira acompanhar-me ao interior das nossas instalações. Se quisesse tê-los-ia mandado às urtigas, mas não. Eu sabia que era culpada e percebi de imediato o que acontecera, por isso deixei-me ir atrás do dito profissional, um rapaz simpático, caboverdiano. Os conterrâneos de África, sempre no meu caminho...
A minha mala, que escolhi com dificuldade, ( de traçar, para ficar bem aconchegadinha a mim, não fosse o diabo tecê-las ) para levar para o maior festival de música do mundo, tinha na bolsa de fora, uma embalagem com pilhas marca Continente, tal qual saíram do expositor, na noite anterior, do Continente do Colombo. Que paguei. Nunca roubei nada nas lojas. Nunca roubei nada a ninguém. Só maçãs da índia, figos selvagens e outras frutas, dos quintais, quando era candengue e talheres dos aviões, quando ainda eram em inox, mas isto é um clássico e só mesmo os tótós é que nunca experimentaram a adrenalina desses momentos, se tiveram oportunidade.
Bem, mas chegou o meu carrasco, ao telefonema da menina que foi perguntando se tinha comprado algum artigo, na loja, recentemente. Foi quando se fez um clarão, um relâmpago enorme e o meu coração disparou. Burra, burra, burra...como é que eu fui entrar no hipermercado com um artigo fechado e pior, sem o talão do pagamento, porque mudei de carteira e não era importante levar talões para um festival de música, convenhamos.
Foi simpático. Mas disse-me com delicadeza, não me posso queixar, que o acompanhasse às instalações próprias. Jesus Maria! Já vi este filme muitas vezes, aos outros, e só me ocorre que deve ser um momento muito mau para quem tem de fazer esse percurso da suspeita e da humilhação. E os dedos apontando, por trás do criminoso ( ? ) devem doer bués...
Mas não. Acho que porque já pouca coisa me faz doer, ou sentir humilhação, segui o senhor, com a Paula, que me dizia que estivesse calma. Tadinha da minha irmã...
Nunca me calei, que não sou capaz, mas fiquei quase afónica. E a partir desse instante em que senti " as algemas " roubando-me tempo e tranquilidade, perdi os graves e fiquei a falar fininho, que é uma coisa que me acontece de há uns tempos para cá.
Já lá dentro, fui despejando a carteira e dizendo ao segurança saber o que era. Estava na cara que eu podia ter roubado as pilhas, da loja. Como 2+2, serem quatro, mas não, ali 2+2, eram, zero de culpa, senão a de entrar numa loja do grupo com a embalagem intacta e à entrada não ter declarado tal facto. Soltei alguns palavrões de trazer por casa, furiosa, com a situação, que me roubava, a mim, isso sim, tempo, porque uns amigos poderiam estar prestes a apanharem-me à porta do centro comercial como combinado. Expliquei-me e fui mandada em paz e com votos de bom concerto. O primeiro segurança ainda teve piada quando me perguntou porque não tinha ido ao concerto de sexta-feira, ver a Shakira... pois tá bem abelha, o senhor não me conhece mesmo.
Não saí dali, sem que o chefe me explicasse porque apenas ouvindo a minha justificação, me permitia a saída e na posse das pilhas.
Recebi uma explicação. Quando se trata de um furto, o autor entrega de imediato o produto roubado, ao contrário de mim, que me apossei das pilhas . Que a única preocupação que tinha era não ir com os meus amigos para o Rock in Rio. E por último, que não mostrei medo.
Isto não me convenceu. Isto não funciona por caras ou atitudes. Eu que trabalho na casa da Justiça sei, que quem vê caras não vê corações. E que o grupo Sonae não trata estes assuntos com tanta leviandade.
É claro que as câmaras ligadas não me viram sequer no corredor das pilhas. Pois se eu fui apenas buscar água, um pacote de bolos e toalhitas, para levar para o concerto...
Mas que isto foi uma aventura incómoda e constrangedora, foi, que eu tive culpa, tive, e que daqui para a frente não vou facilitar, não.
Eu não digo que me acontece o que só acontece aos outros? Pus-me a jeito, mas...
Vou esperar pelo euromilhões premiado, porque um dia vai sair.

1 comentário:

anónimo disse...

ihihih! uma suspeita de furto a trabalhar num tribunal...que " prato cheio ". ainda bem que tudo se resolveu e foste para o rock in rio numa boa.