Sao doces de rua. Que as quitandeiras vendem. Sao fritos parecidos com a textura das cavacas das Caldas da Rainha. Com o assucar por fora como elas, as cavacas. Teem um feitio diferente. Parecem OOs, encolhidos. As suas pontas a tocarem-se. Sao crocantes e doces e sabem maravilhosamente, e lembram-me a minha infancia e a avenida Brasil, e o ano passado, na Ilha, quando os vi ao longe e os reconheci...
Dentro duma bacia enorme. Perfiladinhos. Chamando por mim, gritando, acenando histericamente...
Hah um ano que nao me punham a vista em cima, nem eu a eles. O apelo foi reciproco. Fomos impelidos uns para os outros.
Bom dia...
Bom dia, respondeu a menina, gorduchinha e bonitinha.
Qual eh o presso dos micondes, apontando para eles.
Vinte.
Vinte cada, estah caro.
Nao posso descer o presso.
Estah a enganar-me. Vale menos, faz dez.
Nao posso mesmo. Dou um para a esquebra,madrinha.Quantos quer?
Arrisquei um numero. Cinco.
Yah, dou um para a esquebra.
Qual eh o seu nome?
Avozinha, disse.
Nao, avozinha...o nome verdadeiro.
Veronica, mas todo o mundo me chama de avozinha ateh que me acostumei, esquesso de Veronica.
Veronica, o tempo estah farrusco, vai chover?
Nao mae, a chuva jah fugiu lah para as banda do Cacuaco.Essa hora tah assim, mas logo mais vai vir o sol.
Olhei-a embevecida.
Dei-lhe 500 kuanzas, ela fez o troco e deu um miconde para as quebras.
Teh logo. Volta sempre aqui, disse-me.
Para queh? para me enganar?
Riu-se do alto da sua juventude de 19 anitos, que eu jah perguntara a idade.
Nao enganei, mae, juro por Deus.
Disse-lhe adeus e fui embora de alma a transbordar.
Em casa, a Nica disse-me que nao fora enganada. Que eh mesmo o presso deles.
Fiquei contente pela Veronica. Eh uma menina honesta.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
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5 comentários:
Clarita, boa estadia. Adorei o texto.bjo
Que post terno e belo.Angola em grande nessa alma.Boa estadia.
A história é óptima, mas é a forma como a contas que a faz tão boa de ler.
Clara, desculpa a minha ignorância...me explica o que são MICONDE, dizes que é um doce. Não me lembro, ou então há mts.anos atrás ainda não existiam, será?.bjs.celeste
Cekeste, existiram desde que me lembro que sou gente. Os nossos pais, brancos, da Metropole nao gostavam que comessemos doces de rua das quitandeiras. Daii que haja quem nao conheca. Felismente para mim qu os meus compravam para comerem e repartirem comigo e nao aconecesse isso e eu tinha a cumplicidade da Lucrecia, minha lavadeira que me fazia as vontades todas e nem precisava sequer de suborna-la. Fazia uma voz mais melada e ela ficva no ponto.E ia comprar todas as porcarias que eu pedisse.Ressalvando, que os micondes sao optimos e nao porcarias ok? para as bandas da avenida Brasil era a fronteira e noos os miudos da zona conviviamos muito intimamente com os putos do muceque Marssal e daii esta minha forma de estar e ser perante o passado e as coisas da terrsa.O colegio onde estudei tinha alunos de todas as cores e fica mais facil um pessoa crescer saudavelmente e sem preconceitos, assim.Depois, eu era branca de segunda, como ofensiva e abusadamente me chamavam para me picarem e eu PICAVA-ME mesmo e ficava mal educada, como se diz aqui, bravava, e isso aproximava-me mais do genuino. Tenho a cereteza que ja viste micondes. Tirei fotos da eronica com os micondes e quando chegaa Portugal publicarei no blog.
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