quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Luanda, uma ervilha!

Ontem acordei com uma ideia a crescer-me na imaginacao, um prazer a invadir-me o corpo, um poema a saltar-me dos dedos.

Hoje acordei com uma obrigacao e uma ansiedade, no meu coracao.
A minha visita ao cemiterio de Sant'Ana, na Estrada de Catete.
Antes, atravessei a avenida onde estou e fui ao outro lado, aos escritorios da TAAG, para confirmar o meu regresso. Sao procedimentos que somos obrigados a fazer sempre.
Ha filas enormes, mas eu passei por entre os pingos da chuva, gracas a uma amiga e colega da minha amiga. Ainda assim, esperei cerca de 45 minutos. Aqui eh devagar, devagarinho, como o alentejano, por isso quem programa o dia, nao consegue cumprir porque o tempo que perde altera compromissos, afazeres e ate prazeres.
Depois la fui, eu e o Sr.Tiago, o meu amigo, motorista, a caminho de Sant'Ana.
De manhah, nao ha qualquer perigo, pois o cemiterio tem sempre gente, porque os funerais se realizam so e sempre na parte da manhah e porque as pessoas que visitam os seus mortos escolhem este horario.
Entrar ali, provoca-me alguma, muita, nostalgia do meu avo, da minha infancia e adolescencia, da minha vivencia em Luanda como natural e residente. Da minha mae.
Gerir estes sentimentos nem sempre eh facil. Ou por outra, nunca eh facil.
Ah entrada, um mar de gente. Algumas bancas vendendo flores naturais e coroas artificiais. Dirigi-me a uma delas e comprei um ramo de margaridas, brancas, e amarelas tambem. 500 kuanzas. Nao sei se fui papada ou se eh o preco real. Pagaria o que me pedissem.
Quando ja estavamos no interior do cemiterio e ja perto da capela, que sempre me encantou pelas cores que tem e por estar no centro e ter um espaco ah frente muito cuidado, passamos a ser seguidos por dois rapazes. Avisei o Tiago que andasse mais devagar para perceber se estava certa e nos seguiam. Este disse-me que nao faziam mal, que estava muita gente a circular por ali.
Observei que o cemiterio estava muito mais limpo e cuidado e tinha os seus arruamentos alterados. As ruas que dividem os talhoes tinham sido feitas de novo e ja se parecia com o cemiterio que eu tratava por tu desde que me lembro de existir.
O Tiago informou que foram os chineses que fizeram as obras. Alias, os chineses estao em todo o lado, de picareta na mao, o que eh impressionante.
Localizei o portao para poder chegar ah minha avo. Mas assaltou-me um medo, um panico que me doeu a alma. Nao localizava a campa e julguei que a tivessem levantado. Os tais rapazes aproximaram-se e um disse-me:
Senhora, a tia nao anda a procura da campa da tua avo?
Olhei-o incredula.
O ano passado esteve mesmo comigo aqui, ate que lhe trouxemos mesmo neste lugar desde a porta, com o guarda.
Senti-me de novo calma e rejubilei.
Como eh que aquelas almas se lembram de mim, decorridos que foram 15 meses?
Este paiis eh mesmo outro mundo, outra terra, outra gente.
Bem sei que eles estao ali todos os dias para arranjarem uns trocados em troca de uns servicos, como sendo, limpar as campas, ajeitar as flores, caiar se for caso disso. Mas lembrarem-se que fui ah procura da campa da minha avo, transcende-me, completamente.
Afinal, a memoria nao eh curta. As pessoas nao sao numeros. Ainda que me tivessem atribuido o numero 10 porque duas vezes fui ali num dia 10, juntaram-lhe um factor importante, o sentimento. A minha avo, o motivo da minha ida ali onde eles funcionam.
Calma, pude perceber que ainda me faltava uma rua e consegui chegar ao meu destino.
Ali estava ela na fotografia de ha 55 anos.
Emociono-me sempre. Muito...
Eles foram a procura duma pa e duma vassoura para tirarem a terra vermelha que tinha por cima e garantirem uns kuanzas. Fui avisando que so tinha 500 paus.Disseram que estava bem. Limparam tudo. Depositei as flores. Orei. Senti-me em paz. Ficaria ali o resto do dia, a fazer-lhe companhia. A falar com ela. A desejar que me desse um sinal.
Acho que deu ja o ano passado, quando me fez ir a ela a 10 de Setembro.
Voltei para casa em paz.
Ate ao ano que vem, Rosalina das Dores Pais, que nasceste num dia 26, de Julho ( dia de Sant'Ana ) e faleceste num dia 26, de Janeiro.
Ele ha coicidencias...

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