Ontem ah noite fui despedir-me da D.Arminda. A minha velha e doce mae de Angola.
Estava bonita, cheirosa, com uma luz no olhar e uma docura na voz como que a dizer-me que estah tudo bem, que vai ficar tudo bem.
Fez aqueles rissois de camarao, que eu gostava muito.E bolo de chocolate.
Trouxe coca-cola. E insistia para que comesse. E o meu dia tinha sido muito sofrido. Muito intenso, e eu nao tinha fome. Mas comi porque ela preparara o jantar com todo o amor que soh ela sabe dar.
E disse-me que via a telenovela da SIC, e de facto passava na televisao na altura e ela estava a assitir enquanto conversavamos. A da Helena. Aquela negra bonita que se apaixonou por um homem maduro.E tocou a musica deles, que ouvi pela primeira vez em plena novela.E lembrei-me do meu MP3, onde oisso esta cancao. E de repente, estou ali com a minha querida amiga que foi sempre minha confidente.E apeteceu-me deitar a cabessa no seu colo e abrir o meu corassao. E contar, contar, desde que saii de Luanda em 75 ateh ontem. E rir e chorar e ouvir os seus conselhos amigos, como se de uma mae se tratasse.
Mas, numa atitude postissa, de mulher segura e corajosa, preferi nao a atormentar, que ela ja tem que chegue.
Mas houve pormenores do nosso serao, que me enterneceram, tal como com a D.Aida.
Clara, ainda usa muito perfume?
Muito como?
Se usa sempre?
Sorri. Era a minha vaidade, o meu luxo, como o baton. A minha imagem de marca, direi eu.
Entao nao? Agora que estou a ficar kota, eh pior, nao pode falhar.
O filho Mario, que revi ontem ao fim de 34 anos e que estava super feliz, riu-se comentando que eu estava tal e qual.
Eh ela, mae, essa Clara...estah igual, nao mudou.
Nao sei porque oisso isto constantemente. Ou sei?
Eu ja me esqueci de como era. Eu mudei. Mas para estas pessoas, nao. Os meus afectos permanecem.
Logo, eu ainda sou a outra, do tempo colonial, apesar de ter partido para o pais dos brancos, e viver na Europa. E a grande inquietacao destas pessoas eh esta. Se eu ja nao sou a mesma.
Mas voltando ao perfume...
Lembra-se disso, dos perfumes?
Claro que sim, como ia esquecer? A Clara usava Madame Rochas.
Eh preciso um coracao grande, enorme, e resistente para aguentar isto tudo num soh dia.
E eu percebo que tenho a doenca do tripulante. CARENCIAS.
Carencia destas pessoas mimando-me, dando-me conta do meu passado, daquilo que faz de mim o que sou e como sou para as minhas pessoa hoje.
Esta mulher ha uns anos, muitos, no tempo em que em Angola todos passavam mal e os recursos eram escassos, mandou-me uma encomenda, pela minha amiga, dois frscos de perfume La Coste. E eu tambem nunca mais me esqueci.
Ontem falei nisso e ela nao se lembrava...
Ja estou com saudades deste carinho, desta dedicacao, destas memorias que me fazem nao me esquecer de mim, e ainda nao fui embora!
sábado, 12 de dezembro de 2009
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1 comentário:
Aproveita muito. Aproveita tudo. Por aqui está tudo bem. Beijos grandes.
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