Uma loanda na praia
Um pescador solitário
Uma criança suja, brinca
Uma cubata...de folhas secas de palmeira
Galos brigando ao sol
Um bocejar de pasmo, tédio, desprezo
A vida que ninguém quer
Que serve ao negro e a mais alguém (?)
Que serve ao negro (?) e negro é alguém (?)
Se consente os piolhos na cabeça
Se lambe os dedos guloso sem lembrar de talher
Se um velho trapo serve para enganar a nudez
Se para falar com o branco se engasga no seu português
Se para libertar a terra
Viveu com os bichos na selva...se...
Uma loanda na praia
Vai trazer peixe fresquinho pra vender na praça
Mas mal dará para comer
O dinheiro que para a sanzala trouxer
Uma criança suja que brinca, é uma criança
A água lhe limpa o corpo mas não limpa o nojo
Que sentir dos homens quando crescer
E puder compreender
Uma cubata, fruto do suor e do trabalho
De força de braços crentes
Encobre o frio, a revolta, o grito dos inocentes
E os galos brigando ao sol, a presença da desunião
Que serve de pretexto
Aos seres sem coração
Um bocejar de pasmo, de tédio, de miséria...
Há muita gente iludida
Na mórbida intenção
De exterminar o negro
De o comparar ao cão
O negro é como tu
Branco ou amarelo
O seu pobre corpo nú
Te faz sentir medo
Que no fundo sabes bem
Que o tal negro, o coitado (?)
Sempre foi e será alguém.
1979.t.n.
domingo, 10 de janeiro de 2010
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