Combinara almoçar fora.
Ir comer cacussos.
E fui.
Levei uma amiga comigo.
Que mesmo morando perto de mim, não conhecia o restaurante.
É angolana e somos amigas há 50 anos.
De infância. A minha infância mais remota.
E os vestidos das bonecas, e " os jogos da macaca ", ou semalha, do " quero fogo ", do " toca e foge ", das idas aos quintais dos vizinhos para " roubarmos " maçãs da índia, pitangas, gajajas ou figos da índia, das máscaras de Carnaval, das canções do Roberto Carlos e dos Beatles,tudo fizemos juntas.
Levou-me pela mão, pela primeira vez para o Colégio e eu chorona que sempre fui, chorei que nem uma condenada e ela consolou-me ( era mais velha 2 anos )como a uma irmã mais nova.
Depois veio a adolescência, e foram as fotonovelas trocadas, os livros da Corin Tellado, os " negritas " avulsos, fumados às escondidas, as primeiras paixonetas, os batons, as unhas que pintávamos, as confidências...
E por fim, já adultas, as idas ao cinema, os lanches na pastelaria Paris, as idas à praia nas férias de Março, com o nosso amigo do ford capri, Borges da Cunha, ou pedindo boleia na Marginal, para a Ilha, só a carros arejados ( mini jipes ou beigues, as confidências...
Depois veio a guerra e acabou tudo.
A Independência, e eu já estava em Portugal.
Vivemos vidas diferentes e andámos anos esquecidas de nós, a criarmos os filhos, depois, reencontramo-nos.
Hoje, ela divide-se entre Lisboa e Madrid, por motivos que não interessam aqui e estamos mais afastadas do que já estivemos, cá em Lisboa.
Vamos trocando mensagens, alguns telefonemas e muitos mails.
Está em Lisboa agora, por pouco tempo.
Ligou-me para saber de mim.
E foi almoçar comigo e com a minha cria.
A sua cria mais nova está em Madrid.
E já não nos separámos até esta hora.
E fomos jantar e ao cinema.
No fim disse-me: Maria Clara, vou passar a vir ao cinema convosco.
Gostaste, não é?
Gostei muito.
Não lhe disse, mas também eu gostei muito.
É um prazer estar com uma amiga de há 50 anos. Não filtramos nada.
Não omitimos nada.
Ela conhece-nos por dentro e por fora e estamos a ouvir constantemente, que não gostamos disto, que somos capazes de fazer aquilo, ou de dizer aqueloutro.
E volta a cumplicidade de sempre, a gargalhada, até o advinhar o pensamento.
E ouvimos conselhos e tudo.
E é uma ternura conseguirmos ser as mesmas miúdas que fomos, e as adultas já maduras, que somos, com outras vivências em separado, e não esquecermos da nossa origem, da nossa terra, da nossa vida lá, e em comum, porque fomos vizinhas, de quintal com quintal, cerca de 11 anos.
E quando nos dizem olhando-nos dentro das nossas pupilas:
Amiga, tinha tantas saudades tuas!...forma-se um nó no estômago, a lágrima quer saltar e o queixo quer tremer e aparece o beicinho como quando éramos miúdas e nos fragilizavam.
Hoje foi um dia de sábado como eu gosto de viver os sábados.
Muito feliz.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
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