domingo, 13 de janeiro de 2019

Querem dar tiros? Dêem para os pés

Neste lugar de Deus, perto da cidade e já mato, sou acordada de ' madrugada ' pelos galos que cantam, as rolas que fazem coro e pelo cão da vizinha, que dizem tem um sopro no coração mas ladra tanto que aflige o meu. Sou tocada pelos primeiros raios de sol. Avisada pelos comboios, que já começaram a faina do vai e vem , pouca terra pouca terra; e desperta para tiros de caçadeira, lá mais para o interior dos baldios brancos da geada, que imagino estejam, dada a baixa temperatura que envolve este mundo torrejano de um Ribatejo encostado à serra e à boleia do Tejo ' en passant '. Há uns anos que não ouvia os caçadores, ( que nestas paragens é o que mais há ) das quintas e domingos darem um ar da sua agressividade consentida. Licenciada e aplaudida por todos os aficionados e não só. E ninguém me pediu mas dou a minha opinião - querem dar tiros? Dêem-nos para os pés. 
Neste pedaço de terra pacífica, quieta e muda, campos de pasto e agricultura, gentes humildes e iletradas, cansadas e envelhecidas, os domingos podem despertar e despertar-nos naturalmente, em festa, ou abruptamente. Mas nunca como nas cidades. Só que não seja com um balázio, por engano ( o que também pode acontecer ) já não é mau...
Acordei bem. Entre sons da Natureza e outros pouco naturais a fazerem lembrar o que está mal. Mas isto sou eu que não faço parte do cenário recusando-me a integrá - lo. Sempre. Fugindo dessa teia e alienação tal qual um javali, um coelho bravo, uma perdiz ou um pato bravo.

m.c.s.

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