Às voltas com as lembranças - anos férteis, sucessos, projectos e fracassos, vidas suspensas, atropelos e humilhações, indiferenças, traições, recomeços, fez-se tarde em mim. O tempo rouba o sol aos dias e as estrelas à noite, trocando-as por um manto que arrepia e por um amargo sabor a perda. Paredes meias com a escuridão.
Mataram-me o verão. Que me prometeram. Sem se fazer primavera. E levaram palavras que não pronunciei. Gestos que não vislumbrei. Pecados que não cometi. Flores que nem sequer colhi.
Deixaram-me dores que não ultrapassei. E um regaço cheio de nadas.
Das penas fiz lembranças. Aconcheguei a solidão e suspirei pela esperança. Não a achei.
Mataram-me o verão!
Chorei-o mas não o enterrei. Deixaram-me os pedaços, que atirei ao mar. Para me salvar.
Salvei-me.
Às voltas com as lembranças prometo-me deixá-las caladas, quietas, apaziguadas. No tempo que as protegeu mas também as trucidou.
Faz-se tarde em mim. Para continuar, é preciso sacrificar o tempo das lembranças. E ressuscitar o verão...
m.c.s.
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