domingo, 14 de abril de 2013

regressar


Disseram-me assim:
...regresso à banda lá para o fim do mês, para o caso de precisares de alguma coisa para lá, além das recomendações à Kianda...
E eu nem paro para pensar na resposta. Está nos cinco sentidos.
Está nos meus olhos, que ora choram ora riem, ora se admiram e se tornam nostálgicos naquela melancolia de dar pena. Ora se enchem de infinitos; de mares, de sois e de cores. 
De paletas de pintores. De alegria...
Está nas minhas mãos que apontam o horizonte deste mar e fazem pala na tentativa de vislumbrar um sul mais a sul que este sul. Numa rosa dos ventos que me beneficie. 
No aceno sempre pronto num até já e não adeus. No kandandu que lhe dou e que recebo sempre de braços abertos e ansiosos. Está nos poemas que lhe dedico. Na inspiração, musa que é. Na fantasia...
Está nos meus lábios saboreando palavras, o sotaque, os prazeres. Falando para a kianda. Dialogando. Espalhando o seu nome. Cantando, beijando. 
No sabor do feijão, da gajaja, múcua, pitanga, da kanjica, da quitaba e do jindungo. No paladar... 
Está no escutar. O dialeto. A sonoridade dos instrumentos. O calão. As interjeições 
humoradas, em tom juncoso. E as estórias das sereias e do mato. Das hienas e dos jacarés. 
Das gibóias e da mata. As cenas do vizinho do bairro, do político ou do motorista de 
candongueiro. Do comba da semana passada. No fervilhar...
Está no cheiro de terra molhada, de perfume de frangipani e das acácias. Do iodo na beira da praia, da castanha de caju a assar, do bombô e da jinguba. Do mel que a manga tem. Do cacimbo. Na infância e no seu retornar...
O que eu preciso da banda???!!! Tudo.
O ar que me pertence para poder respirar a dois pulmões, de espírito desperto e descansado.
O céu onde sempre toco com a palma da mão quando chego e também com o coração se lhe olho a partir da realidade e não do sonho.
O mar revolto em tempestade, de calema. Ou insistente e repetidamente quieto e de maré vazia. Azul, verde esmeralda do meu encanto de o olhar e sentir. No seu marulhar. 
E o chão onde piso de corpo inteiro, na raiz, na placenta, na posse. Na essência.
O que eu preciso da banda? 
Do povo. Não de bôbo da corte p'ra me fazer rir ou de desgraçadinho que me faz chorar. Não.
Do povo, meu povo, convivendo, sorrindo e chorando. Dançando semba ou kizomba.
Na esquiva das malambas da vida. Trabalhando, passando, simplesmente passando pelos becos dos caminhos, saltando muros, quebrando amarras, soltando fantasmas, acendendo luzes, sonhando desejos e ambições. Gargalhando. De si prórpio. Vivendo...
O que eu preciso da banda?
O resgate da minha existência. Do meu lugar. Da minha paz e do meu ainda sopro de vida. 
O resgate da minha alma, pendurada que ficou naquele imbondeiro da paisagem. Da memória. Da minha teimosia de ser feliz.
O que eu preciso da banda? Regressar...

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