Há aldeias de Portugal, quase desertas.
Há uma aldeia de Mação, onde existe menos de uma dezena de pessoas.
Os residentes são idosos.
Vivem da agricultura.
Diariamente vão para o campo tratar do seu bocadinho de terra.
E têm animais. Galinhas, porcos, patos, cabras e ovelhas.
Ordenham as cabras e ovelhas e fazem o queijo.
Têm o forno da aldeia e ali cozem o pão que amassam há décadas e décadas sempre da velha forma que aprenderam com os pais e avós.
Vivem no mundo construído por eles; felizes, lúcidos, crentes, generosos.
Não dão por falta de telemóveis, cartões multibanco, microondas.
Vivem sozinhos. Uma vida simples.
Há dois dias, uma velhinha de 94 anos, numa destas aldeias do interior, do Portugal profundo, partiu para sempre. Partiu como viveu. Como as árvores da sua aldeia que morrem de pé.
Foi auto-suficiente até ao fim.
Amassou a farinha para cozer o pão. Ordenhou a cabra.
Depois, simplesmente chegou o momento do descanso eterno. E partiu.
Antes porém, foi vista pelo médico, pela primeira vez na sua longa vida. No seu último dia terreno.
Estava tudo bem. Simplesmente, precisava partir. Chegara a sua hora.
Que dizer a uma neta, que correu pelos campos da aldeia da sua avó coragem, e por ela foi criada em pequenina? Que a amava num misto de admiração e gratidão? Que era a sua raiz, o seu porto seguro?
Só, que se sinta honrada por ser neta desta mulher, mãe, avó; singular, especial, diferente.
Que a copie pelo exemplo.
Que se lembre dela com carinho e muito amor.
Que a dor não é eterna, e um dia destes, estará a sentir uma doce saudade e sorrirá, à lembrança, em vez de chorar.
Um abraço grande, Cila.
Coragem, minha querida.
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