De novo com o filme " Amar é...complicado ".
E porque eu gostei tanto do filme que perante a hipótese de acompanhar quem o queria ver, não hesitei.
Vira-o sozinha ( como tinha desejado ) na Covilhã. Sem qualquer companhia amiga, familiar, ou ocasional. Apenas mais 4 pessoas numa sala enorme. Em estreia.
Ontem, depois de uma tentativa frustrada, por estar uma fila daquelas que nunca mais tinha fim, acabámos por optar pela sala de sempre, no Corte Inglês. Só que, cedo percebi que já não havia lugares senão para a segunda fila, isto é, aquela fila que nos deixa com o pescoço completamente avariado e o estômago com náuseas.
A senhora disse: Só se for na sala Vip.
Ena pá... nem pensei duas vezes. Sala Vip! Ah pois é. Já tinha lido o preço do bilhete nessa tal de sala vip. O dobro do que o proletariado paga. Vip é vip, pois então...
Deu-me um certo gozo imaginar-me numa sala Vip fazendo o mesmo ( ? ) que os vips todos fazem.
Pareço complexada, porque não encaro isto com naturalidade. Mas não.
Muitas vezes, antes de entrar no recinto dos cinemas, observo o 1º andar, que eu sou muito curiosa e gosto de pessoas e observar os comportamentos delas e até tentar adivinhar o que lhes vai na alma e no corpo. Via por lá, uns sofás que me pareciam confortáveis e interrogava-me sobre se era necessário que os vips se sentassem nos sofás antes de entrarem na sala vip para assistirem a um qualquer filme. Quanto aos vips, já se sabe, há de tudo mas o protótipo é, versão, mulher, a partir dos 40 anos, cabelos compridos, loiros ( porque será que as morenas não são vips, caindo de pára quedas ali, como eu? ) roupas de marca, tigresas, botas altas com calças para dentro das botas e casacos de peles. E o ar... o ar delas para lá de altivo, arrogante, mesmo, sobretudo se têm um vip de braço dado, ou de mão dada, e está a olhar na mesma direcção que a delas, mas por outros motivos. Ou seja, a lambuzarem-se a olhar para nós, ditas intrusas do ambiente. Eles, homens de 50 para cima, calças de bombazine ou sarjadas, sapatos de vela, polo lacoste e outras marcas muito mais caras, lenço no pescoço, casaco de antílope...quando não são carecas, quase nunca são, não sei porque razão, talvez implantes; os cabelos brancos azulados, diferente cor da dos pobres, coitados, que não acertam com a tinta. Também há os casais em que, ela tem 25, 30 anos e veste muito descontraidamente, jeans e tenis, magríssimas ( que inveja ), cabelos compridos e morenas ( aqui, já são morenas. Porque será? ) e mochila de pele, claro, mas mochila em vez de carteira ou saco e ele para lá de 50, babando insufladamente com a companhia, com aqueles tiques próprios de dono e senhor e ao mesmo tempo atormentado de pânico que ela respire outro ar mais arejado . Há de tudo, claro.
Os " meus " vips de ontem passaram-me despercebidos porque o que nós queríamos mesmo era pipocas ( e na sala de espera do 1º andar até há bar próprio, que luxo! ), coca-cola zero e água e sentarmo-nos a ver o dito filme que eu adorei, vai-se lá saber porquê...
Quando finalmente entrámos, percebi tudo. Eu desconfiava mas queria ver com estes olhinhos que a terra há-de papar gulosamente.
Bem! Uns sofás 5 estrelas. Que dá para os obesos mórbidos e para gente com mais de 1,80m na boinha. Que conforto, Jesus Maria.
Sentir-me Vip por duas horas, ainda que num filme que até já tinha visto, teve porras.
Adorei, queridos.
Mas ao longo do filme percebi algo que me deixou a pensar, não que eu também não suspeitasse, mas comprovei ali e naquelas 2 horas. Os Vips não têm tanto sentido de humor. Ou são mais contidos, é claro, nas suas manifestações de prazer e descontracção. Não são tão livres, nem tão genuínos. Que pena. Seriam mais felizes, nem que fosse por 2 horas...
Cá pela minha parte, que não sou loira, nem tenho casacos de peles, nem acompanho com homens de calças de bombazine e sapatos de vela, casacos de antílope, ou todos vestidos de preto, casaco castanho ou cor de mel, de antílope, de bigode, fumando cachimbo ou charuto e carro desportivo de dois lugares ( que pena, dirão vocês), mas pronto, vou sozinhinha ao cinema, ou com uma menina que também, por acaso nem é vip, apesar de falar muito com eles, fartei-me de rir com a Meryl Streep e com todas as cenas hilariantes do filme em questão. E comi pipocas e bebi coca-cola e adorei, de novo, o filme.
Não vou repetir a façanha, até porque há sempre filmes para ver e ficaria muito caro, mas que foi uma experiência curiosa, lá isso foi.
Quanto a Vips, cada um é p' ró que nasce e se eles se sentem felizes, ora bem, vivam lá nesse mundinho à parte, que por acaso, só por acaso, não é o meu.
domingo, 7 de março de 2010
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2 comentários:
Brilhante.bjos.
Concordo plenamente. Que texto brilhante...parabéns.
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