quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


O dia de ontem foi interessante. Se de manhã andei pela Baixa meio descontente com o que me deparei na rua da agência de viagens, depois tive oportunidade de andar a pé por algumas ruas da cidade e visitar instituições bancárias, não porque sim mas porque acompanhei quem precisava de o fazer. E o atendimento está bem e recomenda-se. Meninas e rapazes, bem jovens, bem vestidos, bonitos e simpáticos atendem-te como se fosses um endinheirado. Está bem que somos " suas mais velhas," mas verifiquei o atendimento a outros e nada a apontar, bem pelo contrário. Graças a Deus que os nossos jovens recebem os ensinamentos de quem sabe mais; acatam e usam para bem dos serviços e num crescimento que os torna mais livres.
Há até algumas meninas que na esperança de agradarem mais e ficarem mais bonitas pintam o cabelo de amarelo torrado, assim a dar para o laranja fechado e pôem lentes cor de mel, parece gato e cão quando é amarelo também. E usam unhas que nunca mais acabam, bem retangulares, dizem que é unhas à francesa, com verniz bué branco e até pôem flozinhas e outros desenhos. " Para quê então?! Xéeeeeeeé não lhes gosto de ver!", mas se calhar eu estou mesmo a ficar kota e daqui a pouco vou dizer como os kotas- No meu tempo...afinal, o que eu vim aqui fazer foi ressalvar a atitude dos nossos jovens enquanto trabalhadores nos diversos serviços onde já entrei e não foram apenas os bancários.
Ao fim da tarde contrastando com a Baixa fui a Luanda Sul. Talatona. A vantagem de se estar e viver em Luanda para alguns é que tanto estão no muceque ou o atravessam, na Baixa decadente ou no meio da cidade, andando a pé em baixo de um sol escaldante de quase 40 graus como ontem, como de repente estão num condomínio fechado onde te esqueces que estás em África e se és fácil de enganar já ficas a pensar que te levaram num sítio todo xis-pê-tê-ó das europas. Não eu que nasci neste país e lhe conheço as diferenças e os contrastes desde pequenina, não é só de agora.
Para sair de Luanda custou bués. Eu sei que é assim, mas podia estar mais facilitada essa saída. Da cidade, sei lá, da Mutamba até à Samba demorámos mais de uma hora, apesar de fintarmos uns quantos entrando na rua do cinema Tivoli e irmos aparecer mais abaixo, e termos sorte por haver quem é civilizado no trânsito e deixa entrar. Há uns que a gente desconsegue advinhar, mas há outros que só de olhar já sabemos que nos vão deixar entra na fila à sua frente. O caminho mais fácil, na complicação, é descermos do hospital Maria Pia, naquela avenida bem larga, onde ficava a capela das carmelitas, do lado direito, está lá ainda, a mortuária do hospital, a Escola de Enfermagem onde a minha amiga Julieta cursou e sempre em frente atá à Samba, que agora tem uma ponte aérea que facilita. Dessa ponte avistamos o morro da Samba, pejadinho de construção dúbia, quer dizer, rasca mesmo, tipo mukifos de blocos cinzentos. Por baixo da ponte o assunto do comércio, as transações do negócio, junta ali mais que muitos, tantos que parece aqueles países africanos que às vezes vemos nos filmes. Os ximbecos pintados de cores cativantes e bem berrantes são porta sim porta sim, com altos chamarizes, há até alguns que têm reclame luminoso bem encarnado, ou azul, verde bandeira...de portugal, ou mesmo cor de rosa. Vende-se tudo, mas tudo o que a nossa imaginação desconsegue até advinhar.
É Luanda no seu melhor! Eu curto bués esta zona da cidade, mas só a olhar por cima da ponte e dentro de um automóvel, a caminho do mar, do sul da cidade...Porém quem me leva anda ali por baixo de vez em quando nem que seja para parar numa churrasqueira explorada por um casal, ele branco e ela mestiça, que fazem churrasco bem na frente da venda para todos poderem ver e levar. E parece que esse churrasco kuia feio.
Depois de passarmos a Samba o trânsito espalha-se e flui deixando-nos perplexos numa interrogação de não se perceber porque não é assim sempre.
Chegámos finalmente a Talatona.
Rapidamente chegámos a um empreendimento de luxo que se chama Colinas do Sol. Condomínio fechado porém aberto ao público. Ao Zodabar, clube com esplanada e piscina. E música ao vivo. A Banda Maravilha costuma actuar nesse espaço. Ontem apenas música ligeira, inglesa e francesa.
Jantei nesse lugar prazeiroso, porém a mosquitagem que não sabe que o lugar é chique deu-nos umas ferroadelas valentes ainda que tenhamos aplicado repelente nas pernas e nos braços.
Em suma, a realidade endinheirada de Luanda pode ser mais luxuosa, calma e selectiva mas é tão atractiva como outra qualquer. Pelo menos para mim.
Foi contudo interessante ao longo de um dia revisitar lugares tão diferentes e poder compará-los.
Acabei a noite noutro condomínio fechado de Talatona, para visitar uma família que ainda não tinha visto e conhecer uma menina recém-nascida.
Conclusão a que cheguei há muito tempo: Há os que vivem muito bem, os que vivem muito mal e há os outros. Nós. Aqui e noutros países do mundo que andam a escapar por entre os pingos da chuva. Viver é um risco e vale a pena arriscarmos.
O dia de ontem começou e acabou bem. Nos entretantos deparei-me com realidades contraditórias. Estou de férias. No finzinho, mas ainda estou no bem bom...

2 comentários:

sp disse...

Então ainda está no bem bom... Não sabia e espero que esteja a aproveitar o máximo, mas tb com esse pôr do sol maravilhoso e na "sua" casa, tudo é deslumbrante até a chuva torrencial.
Boa continuação e bom regresso ao nosso outro mundo... muitos beijinhos, temos que combinar jantar

Maria Clara disse...

Que surpresa boa sp.
Estou quase quase...:(
Pois, temos de combinar jantar sim.