quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Lúcia, a minha companheira de viagem



Quando, no passado dia 26 aterrei em Luanda, não estava sozinha. E não me refiro aos passageiros anónimos que fizeram a mesma viagem que eu, naquele avião. Havia uma menina de cerca de 25 anos, chamada Lúcia, portuguesa, minha companheira ali do lado, na cadeira, e que regressava a casa depois de ter passado o Natal com a família. Uma menina bonita, simpática e conversadora. Isto percebi depois de ter falado com ela o que eu acho essencial para que duas pessoas que viajam lado a lado por 7,45 horas se sintam confortáveis com quem vai ao lado, dormindo, comendo ou simplesmente indo...
Gostei dela assim que chegou a mim, numa tentativa de colocar o seu troley por cima de nós. Olhei-a e pensei que era mais uma criatura que ia para casa. Daí ao diálogo não faltou quase nada.
Conversámos mais de metade do tempo de viagem. Já todos os passageiros dormiam a sono solto e nós ainda acordadas, sussurrando para que os outros não se sentissem incomodados.
A minha ansiedade era muita, mas não maior do que das outras vezes e ela provavelmente não tinha sono. O meu receio de ser uma seca, fez-me dizer-lhe várias vezes que se queria dormir que o fizesse. Quando eram cerca de 3 da manhã, os velhotes da frente inquietos, lembraram-nos, na sua inquietude que se calhar nos deveriamos calar e tentar dormir. Levantei-me para ir à casa de banho e quando regressei, já a menina simpática, que nasceu numa cidade que gosto muito, perto da cidade onde vivo, no Ribatejo, estava ferrada num abandono que me fez pensar que eu tinha sido chata. Quando serviram o pequeno almoço, cerca das 5, ela acordou. Eu passara pelas brasas e o meu MP4 denunciava isso, pois tinha dado por algumas músicas tocando, outras nem por isso. Houve muita turbulência ao longo do voo, muita mais que nas outras viagens e provavelmente ficaria mais inquieta se viesse ao lado de alguém que não estivesse a conversar comigo, porque quer queira quer não, eu curto bué andar de avião, mas se ele tremelica, eu abanico por dentro e penso sempre, quer a caminho de Luanda, quer por essa pouca europa por onde já andei, que...aiuê, será que é desta?!
Quando estávamos mesmo a chegar e já se via terra angolana, quer dizer, o meu mar e costa angolana, eu emocionei-me numa choraminguice antiga como eu, de não fazer beicinho porque me controlo porque velho não faz beicinho e eu ainda não estou gagá para me desculparem gesto de candengue, mas ficando a fungar e com vontade de colo de mamãe, de filho, de todo o mundo, eu queria mesmo era encostar a cabeça no ombro de " quem mi gosta " e me abandonar numa emoção que não é preciso controlar. Ela, esta menina bonita e simpática olhou-me. Pelo que conversámos sobre Luanda, não só eu, mas também, muito, ela, sabia o que eu estava a sentir.
Quis que eu lhe desse o nome do blog que eu dissera que tinha, claro, digo sempre que acho que merecem saber, até porque lhe perguntara o nome por que queria falar dela, e emprestou-me, oferecendo-mo sem que eu ousasse sequer lembrar-me de lho pedir, o telemóvel, para ligar à minha amiga pois o meu ainda não funcionava. Na fila dos estrangeiros ainda conversámos, quis dar-me a vez mas não aceitei e passou ela para o guiché. Vi-a ir com um funcionário e fiquei intrigada. Sorriu-me, mostrou-me um papel, acho que tinha a ver com o visto, provavelmente por ser diferente do meu, pois trabalha em Angola; articulou a palavra caução mas não percebi e vi-a desaparecer. Ainda pensei que nos voltariamos a ver na chegada das malas. Mas não. Não voltei a vê-la.
Gostei muito de ter viajado com alguém tão simpático e conversador e jovem, da idade do meu filho, que ama Angola de uma forma tão sã, como esta terra deve ser amada por quem nela trabalha, mesmo não sendo filho da terra. É de louvar que uma menina recém licenciada, com 21 anos tenha escolhido para si o desafio que é viver em África.
Falei dela aos meus amigos. Pensei fazer um post, como agora estou a fazer. Depois pensei que no rescaldo da minha estadia aqui, quando já só fossem memórias recentes, escreveria então do que tinha sido a minha viagem de vinda e de volta.
Mas ela veio ao blog, E escreveu. E eu não pude deixar de fazer este apontamento.
E copiar o seu comentário porque gostava de partilhar com todos os que lêm os posts mas não vão ler os comentários, não são cuscos, quero eu dizer. Para que percebam a qualidade da pessoa que me coube em sorte a caminho de Luanda voando nas asas do pássaro livre...
Nada é por acaso e esta menina vai ficar em Angola. Aceita esta terra com a alma livre de quem sabe e quer perceber tudo o que se passa nela.
Deus a proteja e guarde Lúcia.
Desejo-lhe as maiores venturas nesta minha terra que já considera sua em apenas cinco anos. Quem já andou de candongueiro, foi à raiz. A minha terra já lhe deu "mi gosta". Parabéns por ser quem é e amar Angola sem condição. Sakidila yá?
O meu endereço: m-clara-s@hotmail.com ou das.dores53@gmail.com. Sabe onde trabalho. Sabe o nome do blog. Se um dia precisar de qualquer coisinha, não importa o quê, contacte-me sim? Um Kandandu muito apertado.
Vá dando notícias, gostei muito de si e gostaria de saber como vai estando.
Beijocas, querida.

Anónimo disse...

Pensei em si e não pude deixar de revisitar o Tukayana para finalmente deixar a mensagem de feliz 2011: FELIZ ANO DE 2011 e desejo-lhe ( só ) o melhor :)

A fotografia não podia ser mais oportuna. Ontem fiz a minha primeira visita a uma esquadra em Angola. Apesar de ter ficado com o vidro do carro partido, devo dizer que a experiência não foi má: 6 polícias a patrulhar as ruas de Luanda, encontraram o ladrão dentro do meu carro, apanharam-no, conseguiram contactar-me e lá fomos juntos formalizar a queixa. De um profissionalismo refrescante.

Continuação de um bom regresso à terra natal!

Beijo da companheira de viagem Lisboa-Luanda

5 comentários:

helena disse...

Gostei do teu artigo sobre a Lúcia. também tenho uma filha Lúcia e nada é por acaso.
Angola poderia ser o destino de muitos jovens empreendedores que aqui não conseguem ser integrados no mercado de trabalho, simplesmemte porque não há esse mercado. Tudo de bom para a Lúcia.
as maiores felicidades nessa Angola que é daqueles que a amam e respeitam, já que eu penso que o homem é cidadão do mundo, só tem é que,esteja onde estiver, respeitar e exigir ser respeitado.
Agradeço-te muito esta viagem que me ajudaste a fazer, através dos teus textos tão bem elaborados, tão claros e felizes. Abraço. lena

Maria Clara disse...

Olá Leninha
Abraço também para ti.
Obrigada pelas palavras sobre os meus textos.
São para vocês as fotos, as palavras, as imagens que os meus olhos e coração vêm e sentem.
Jinhos

constancia disse...

Faço minhas as palavras da Helena. Tb eu estou a fazer a viagem contigo, através das tuas palavras e imagens.
Continuação de boas férias. Muito obrigada e um grande beijinho

Maria Clara disse...

Olá amiga
Não consegui ainda ir à Igreja do Carmo. Cada vez que passo lá lembro-me de ti, bem como do liceu salvador correia. Queria tirar fotos de tudo mas não consigo. Não páro, nem saio do carro por isso por vezes já passei e não deu para reter as imagens. Desculpa-me por isso ok?
Deves lembrar-te do Frei João Domingos. D Igreja do Carmo. Esteve sempre cá em Luanda. O ano passado assiti a uma missa dada por ele. Faleceu em Lisboa de doença há pouco tempo.
Beijinhos minha querida e fica bem

Constancia disse...

Obrigada amiga, não te preocupes. Estou feliz com as imagens que tens partilhado e com os teus textos. È quase uma visita guiada, depois de tantos anos... Tudo de bom para ti. Beijinhos