terça-feira, 31 de julho de 2012

domingo de cacimbo

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É domingo.
O dia amanheceu cinzento. Há cacimba cobrindo o bairro. Será que só na Vila Alice tem estes borrifos, dizem, é molha-tolos? Aprendi isso mais tarde. Na Vila Alice sabem tudo e nunca que ouvi essa expressão. Parece que é quando chove mas não molha.  Aprendi mais tarde, diz que é, nim. A coisa boa que fica  desse nim, é o cheiro húmido da terra molhada.   Pensando bem, no cacimbo chove? Não. P’ra quê esses truques do tempo, parece finta estilosa a fingir manhã de chuva?
Gosto do cacimbo. À noite até que dá p’ra vestir o casaco de malha fininha que me ofereceram nos anos. Branco. Muito fino, quer dizer, chique, que até parece foi comprado numa dessas novas boutiques da Baixa.  Hoje vou calçar os sapatos picotados, encarnados e brancos que comprei na sapataria Lord, com o dinheiro que o avô Carvalho me mandou de prenda d’ anos. E vestir o vestido d’ alças, chão azul escuro coberto de malmequeres grandes e pequenos. Dona Fortunata é que fez, n’ amarra. Não desgrudei dela até ficar pronto. Está-se a usar. O pai trouxe dois cortes, do Quintas. Um p'ra mim, outro para a mãe. Padrões diferentes, não somos gémeas, ora essa! Tremo só de pensar que sô Santos é que escolhe o padrão. Não gosto dos cortes de tecido terylene que tem a mania de trazer, parece vestido de boda. A mãe tem um, verd' água. Mas é a mãe. Eu não. Prefiro  comprar popelina ou chita,  nos Bastos, Suba ou  Gajajeira. A Gajajeira tem rolos de tecido a metro,  bué da nice. Baratérrimos. Já fui lá com as minhas kambas.
O pai comprou o jornal; ao domingo traz o Bamby e eu leio desde kanuca.  E faço as sete diferenças. O engraxador dos domingos, já chegou. Entra para o quintal, a Bolinha cheira-o e não lhe ladra. Já é da casa. E é candengue. Cão que é cão não ladra nem morde nos mais novos. O pai lê o jornal enquanto engraxa os sapatos. O almoço vai ser caldeirada de cabrito. Ele que está a  fazer. Já cheira até no quintal. O kota gosta de cozinhar. A comida dele, kuia. Sô Santos é grande! E manda. A mãe acha que ele sabe mandar. E se manda bem que continue. Poupa-lhe trabalho e cansada anda ela de lavar roupa no tanque, engomar, ( ainda bem que já temos ferro elétrico ) e limpar. A Lucrécia está doente e deixou de vir. Mandou a  Ana, irmã dela, mas lhe morreu um filho que tinha com o André, o empregado do pai, caté lhe deu uns dias p’ra fazer o óbito lá no Rangel onde eles vivem,  depois o André voltou mas a Ana, não.  Agora não temos lavadeira. Está na hora do pai comprar máquina de lavar como gente fina tem. Alguns amigos compraram e até que nem são finos. .
A mesa hoje vai ter convidados. Vivem sozinhos e ao domingo vivem mais sozinhos. O pai  convida e adoça os domingos dos solitários. Eu gosto de ver a mesa cheia. O primo Fernando desde que se separou da Emília, mulher bonita é essa, sempre de cabelo, ripado, cheio de laca que nem um fio levanta com o vento, unhas grandes e encarnadas, blusa d’ alças dando lacinhos e calças de mousse justas ao corpo, presas no pé com uma tira, cheirando a  coló
nia Santa Clara, o primo Fernando, desde que saiu da casa dele e se mudou para uma pensão na avenida, vem almoçar aqui em casa aos domingos e o António Barbeiro, quer corte cabelos quer não, só falha se estiver doente. É o pai da Carminho, que está a ser criada pela D. Maria da Luz, ( parente deles e minha vizinha ), desde que a mãe morreu. Não a conheceu. Tenho pena dela, não sabe o que é ter uma dona Celeste, que nem eu. A D. Maria da Luz tem uma horta no quintal. E tem perus que me assustam, à minha passagem. E tem livros de cozinha fantásticos e às tardes, nas férias grandes, para orgulho da mãe, coitada da mãe que se orgulha com tão pouco, vou p’ra lá copiar  as receitas que me agradam. Manda-ma para cá, diz à mãe, está aí sem fazer nada. Eu vou sem a mãe mandar porque gosto. Acho, posso ser cozinheira nas horas livres de ser médica, que é mesmo o que eu quero. Encantam-me doces com natas. Só agora começaram a aparecer à venda. E não têm nada a ver com as natas do leite, brrrr que nojo. As natas p’ra bater, que conheço, vêm em  sacos como os sacos de leite, da Primor. Na baixa. Perto da Mutamba. Já as fiz para comer com morangos que vêm do sul, em caixinhas. Se o avô não vivesse em Moçâmedes, quer dizer, aprendi depois que é Namibe, tínhamos morangos plantados por ele no nosso quintal. Quando era candengue comia-os e comia também figos da Metrópole, que aprendi depois que é apenas e só, Portugal. Ele tinha uma figueira, que mais parecia um arbusto, mas dava  meia dúzia de figos e desses, o primeiro era para mim. Sabem aos figos das mulembeiras, só são um pouco, muito, para falar verdade, maiores. 
Tenho tantas saudades do avô! Só vem no Natal. Trocava o António Barbeiro e até o primo Fernando, esses dois juntos, pelo avô a comer connosco caldeirada de cabrito, neste domingo de cacimbo.
Ainda falta  aparecer o Sr. Rocha, a quem o pai chama, nas costas dele, o Rocha maneta, ele é maneta, mas chamar assim, de insulto? Não. Temos respeito. Já basta o que basta. Agora, rimos a bom rir porque ele é o tal  que não sabia que os supositórios não eram p’ra beber. Ó santa ignorância! Ó Rocha isso nem parece seu, homem! Disse o pai. E a contar aos amigos comuns -  Tem a mania que sabe tudo ( e sabe mais do que alguns que vão lá à loja ) e afinal não sabe que os supositórios são p’ ra meter no  traseiro. Sô Santos é transmontano e diz tudo com as letras todas. Traseiro! p’ra quê que estou aqui a armar?  Mataco, foi o que ele disse.
A mãe prepara a limonada com limas, muito gelo e açúcar. Na geleira tem mission e sprit mas eu prefiro limonada. O pai tira os copos de uísque da cristaleira e vai buscar a soda. Quando eles chegarem bebem um uísque para arrebitarem. Houve uma vez que provei, mas com soda não gosto. Com seven-up ou coca-cola, sim. A moda de pôr cola no uisque é uma modernice que o pai experimentou  numa festa, no  tio Augusto.  O meu uísque é de primeira, diz o pai. Não é nenhuma mistela. Ainda tentou beber Sbell, há inclusive cá em casa, mas voltou ao de malte.
Quando comemos cabrito, escolhe a cabeça, e divide os miolos comigo e com o mano Zé. A Paulinha é pequenina e ainda não gosta. O que eu gosto mais na caldeirada é mesmo dos miolos e do molho que ensopa o pão. Esmigalho as batatas, desfio um pouco de cabrito e pronto, estou almoçada. A seguir, vão jogar às cartas ou vão embora e o pai vai ouvir o relato. Tem dias  que vou com o primo Fernando até à Ilha. Fala-me das novas namoradas e deixa-me fumar. Também…já tenho 16 anos e pareço mulher. Quando visto as calças encarnadas boca de sino e a blusa branca sem costas, pinto os lábios de encarnado e encarapinho o cabelo com os rolos de esponja que descobri na drogaria dos Combatentes, os tropas que passam por mim nos unimogs dizem tantos disparates que só não faço asneiras com os dedos nem os mando para a p*** que os pariu porque eles são mais mal educados que eu e ouvia das boas. Nunca mais me esqueço d’um que me disse uma barbaridade de disparates depois de lhe ter mandado à tuge. Em português do Porto e em verso.
Quando saio com o primo Fernando, curto bué; tem música moderna nas cassetes, posso fumar e contar os meus segredos que não chegam aos ouvidos do pai,(  já à mãe conto tudo, ela só abana a cabeça e diz, ai maria clara se o teu pai sabe ) vamos beber coca-cola, eu,  um fino, ele, ou comer baleizão ao farol. Na ponta da Ilha. Mesmo ao pé do Barracuda, que está sempre cheia de gente fina. Parece com os rapazes e raparigas do Salvador Correia. Ou aqueles que  vivem no Alvalade, no Bairro do Café ou no Cruzeiro. Ou os filhos dos fazendeiros. Cheios de importância, pose e proa. Como se fosse verdade a estória do sangue azul. Mentira, temos todos sangue encarnado. Na Vila Alice não há fenómenos desses, ai deles…
Mas a propósito do Barracuda dizem que  há uns  que frequentam este espaço, quer dizer, e outros, aí por Luanda fora,(  há de tudo), que têm descapotáveis, tratam-se por você ( que ridículo ) e diz-se, as más línguas, ou línguas invejosas, sei lá, que fumam liamba nas festas nos apartamentos da baixa para o efeito; gostava de ser mosca para comprovar; às vezes oiço o sô Santos – se a minha filha fosse dessas, dava cabo dela, ela que se atreva, vai logo para a rua com a roupinha do corpo e com uma carga de porrada de cavalo marinho.
Até tremo só de pensar. Tenho a certeza que a carga de porrada levo mesmo, se mijar fora do penico. P’ra quê quero estar numa farra de snobs a fumar liamba e a despir a roupa, sim, porque o sô Santos não diz, mas há quem diga, lá está, dizem, se é o que eu vejo não é nada se é o que dizem é tudo, que tudo vale, menos tirar olhos;  são grandes orgias, bebida, música, liamba e sexo. Por falar em sexo, o Mário meu vizinho andava com uma revista pornográfica e eu apanhei-a e folheei, curiosa. Pela primeira vez com esta idade vi pornografia ali ao vivo ( salvo seja ) e a cores. Nunca mais gostei de porcos brancos, que aprendi depois, que existem no puto, pois aqui só vejo porcos pretos. Por falar em sexo…
Nas festas o que eu gosto é de conversar, comer croquetes e empadinhas, tartes d’ amêndoa e jinguba, fumar Baía e dançar. No limite, dançar agarradinho o je t’ aime moi non plus mas se se põem a arfar, faço força com os cotovelos no peito dos rapazes e piso-lhes os pés. Quê que é isso? Sou alguma miungueira ou quê? Estás-me a estranhar? Ou não me convidam mais, ou aceitam as regras, porque vale mais um pássaro na mão que dois a voar. Ouvi dizer isto muitas vezes. Nunca dancei com namorado nas festas, por isso não sei se espetava os cotovelos no peito dele.
O domingo passa rápido. Sente-se no fim da tarde que se anuncia nas traineiras saindo do porto para a pesca, seguidas pelas gaivotas. Na contra-costa , lá para as bandas do Mussulo, o sol avermelha-se, numa bola de fogo sobre as palmeiras, esgueirando-se para o mar mais por detrás, quem sabe aonde; se o avô Carvalho vivesse em Luanda em vez do Namibe, sabia a resposta. Sente-se nessa hora do sol a se despedir da tarde que causa uma nostalgia qualquer até a mim que tenho um passado tão curto e uma infância tão feliz, acho que saudade existe do não sei quê que ainda vamos viver e não sabemos o que é mas vai ser bom com certeza, só pode ser bom. Temos tudo para ser. Tenho tudo para ser. Idade. Família. Sonhos. Terra…
Aprendi depois que a saudade mais do que no futuro, mora no passado. A idade não pára de correr como o sol p’ra poente, a família vai ficando pequena e a terra, a gente não perde, mas não é dada como certa, apesar da vida me ensinar que a gente se quer,  conquista.  Deve haver mudança, é imperioso que haja mudança e  a minha terra, essa, continua linda e eu lhe toco e toco o céu cheio de estrelas, o céu mais estrelado do meu horizonte,  com a palma das minhas mãos quando estou em casa, como nos domingos d’ antigamente.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

é só um conselho


partida e chegada




Hoje foi o primeiro dia do resto da minha vida.
Pelas quatro menos vinte da manhã, com o coração destroçado, deixei a minha terra, há 37 anos. E cheguei aqui. A este lugar que me tem desde então.
Pode o tempo mudar, pode a memória apagar, pode até o mundo acabar, mas jamais esquecerei o dia em que virei costas ao meu futuro, naquele presente incerto e carregado de fantasmas.
Um dia, sim, um dia irei resgatar estas quase quatro décadas vividas longe do meu chão.
Um dia a minha alma deixará de vaguear entre sonhos e desejos, entre viagens fugazes e visitas temporárias, entre saudades e partidas. Encontros e desencontros.
Um dia sentirei o olhar de Deus sorrindo para mim e terei a certeza que chegou a hora de voltar para sempre para o meu lugar. E irei.

na piscina

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·        Chego à piscina. Exterior. A piscina d’água quente, tem água fria. O jacuzzi idem. A luz está a falhar. Há um problema com o gerador. Na receção informaram-me. Quando lhes fui dizer que a televisão não funciona. A Sara ( a minha amiga da receção ) piscou-me o olho quando a chefe de sala, acho que é a chefe da sala das refeições pediu que se falasse mais baixo, pois estava ao telefone a tentar resolver a avaria. Esta mulher, ao jantar, ( às vezes janto no hotel ) circula de mesa em mesa perguntando se está tudo bem, distribui sorrisos de orelha a orelha mas não me convence. É a única criatura que ali trabalha que não joga na minha equipa nem que se pinte de encarnado. Chego à piscina exterior. É como chegar a casa. Sinto-me um peixe dentro d’água. É bom chegar e reconhecer o espaço. E chamá-lo meu.  Há sol. Não há vento. Está ameno e agradável. Procuro uma espreguiçadeira. Apenas três estão disponíveis. Bem me disse a Sara que o hotel estava lotado. Das três, só uma funciona. Acabo por sentar-me de costas para o sol. Os melhores lugares foram ocupados. Não faz mal. Há vários casais jovens com crianças pequenas. Há jovens raparigas e rapazes em grupo. Estes falam espanhol. Há um casal com sotaque forte de Angola, com duas kanucas, brincando ruidosa e alegremente dentro da piscina grande. Há um casal mais velho que eu, certamente. Ele, com certeza. Encontrei-os a fazer o chek in quando cheguei. Ela com ar  desportivo e moderno, loira, cara lavada,  magra, gira. Ele, cabelos brancos, pele morena, voz arrastada, ar pegajoso. Agarrando-a pela cintura, passando-lhe a mão pelo rabo e olhando p’ra mim por cima do ombro dela, com ar baboso. Detestável. Detestei. E continuo a não gostar. Ela está a ler uma revista e ele, quando me sento na espreguiçadeira, agarra nos óculos de sol e coloca-os. E pára de ler o jornal. Sacana de caça. Sacanas dos caçadores. Parece que estou a vê-los no Corte Inglês, passeando-se com as mulheres, companheiras, amigas ou amantes, quero lá eu bem saber, de braço dado e avançando para tudo o que mexe. Eu não devia levar tão a peito isto, cada um é como é, mas provocam-me asco, sobretudo quando babam pela minha cria. Pedófilos duma figa…hoje não é o caso pois que já sou bem crescidinha. Olho à minha volta. Uma mulher novinha muito escura do sol dá um iogurte ao filho. Fico daquela cor achocolatada ao fim de três dias consecutivos de sol, praia e piscina. Já me confundiram. Quem é essa mulata que está do teu lado? Perguntou a Nany à Mena, vendo fotos de aniversário desta última, comemorado no Ribatejo, ai jesus que se ma apaga a luz só de pensar no ribatejo, mas é que a Mena vive também nessa região. E esta respondeu: a mulata é a Clarinha e as pombas, ( como ela gosta de me tratar e como eu gosto de a ouvir  ).Ao lado da mulher escura, outra com o mesmo tom de pele. Enorme. Talvez tão alta como eu e mais pesada com certeza. O seu estômago e barriga, no dobro dos meus anexos. Acompanhada do namorado, marido, amigo ou amante ou seja lá o que for. Dirigem-se para a escada de acesso à água. Nas mãos dele, uma máquina fotográfica. Ensaia a foto. Ela diz: Assim? E finge que vai em voo. Agora, diz ele. Ela mergulha, atirando-se para a água sem desfazer o personagem. Dentro d’água grita: Ficou boa? Estou bem? Mostra, mostra…e ele, ai ele, olha-a sorridente, tão sorridente que eu sorrio também, ai ele…ai ela… ai o amor…ele sem desfazer o personagem, sorriso pepsodent, diz: estás linda! Pareces um golfinho.Olho os dois. E não desfaço o personagem, sorrio. Pareces um golfinho…O amor é lindo!

domingo, 29 de julho de 2012

hoje

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Ontem

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sábado, 28 de julho de 2012

silenciosamente

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Do alto da duna
Contemplo a luz 
O dia avança
Sobre as águas
Olho a praia
Olho o mar
E o barco ao longe
Cresce o mundo
O horizonte
Cresce a manhã
Cresce-me o sonho
E a ilusão
Liberto o coração
Fico perto
Chego perto
Do silêncio
Do divino
Silenciosamente
Espero por ti...

m.c.s.

aulas

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a minha praia


Pé descalço é, chegar a casa. Nosso sítio. Nosso chão. 
Este chão é...a minha praia! 
digo eu, que os pés são meus.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

para ti, avô

Para ti, avô
Diz que hoje é o teu dia. Inventam tudo. Acho é para que não esqueçamos que os dias não são todos iguais. Há dia para tudo. Para amigo, para água, para saúde, para mãe, pai, criança, áfrica, mulher e agora até para avô. Acho é para que não esqueçamos que os dias não são todos iguais. E para o dinheiro circular feito presentes para os mais sortudos. E para lembrar os que não têm nem sequer uma nota de cinco euros esquecida no bolso, que há pais e pais, filhos e filhos, crianças e crianças, avôs e avôs. 
Afinal há dias para tudo e para todos e há dias até como este, para pensarmos que se não os vivermos, perdemos as raízes, as origens, os laços e as correntes. A hereditariedade, os princípios, os tiques, os dizeres, as gargalhadas e piadas, o perfume, os fins de tarde, os cacimbos, as estórias, os passeios, a música, os hábitos e as regras, os limites, os momentos x ou y que foi essencial e que nos torna diferentes do outro ali do lado, a memória, e fica difícil uma vida fácil e abençoada. Livre e sem fantasma no armário.
Não sou diferente do outros e por isso aqui estou não deixando o dia assinalado passar sem que saibas que sou uma pessoa feliz. Sou mesmo. Fazes-te presente na minha vida a cada momento feliz do meu passado. A cada sábado. A cada passeio. A cada sorriso e brincadeira. Nas palavras dos meus amigos de infância. Nos mais velhos que te recordam. Nos ensinamentos. Na doação d’um amor que te senti e me amaste do coração numa exaltação e entrega que só avô tem.
Não precisas dias no calendário para te saber de cor. Para te sentir amor incondicional. Para te ouvir palavras sábias e sensatas. Para ter a certeza que um ser humano não é igual ao outro. Para saber que foste singular e me calhaste em sorte num sorteio que Deus fez questão de me brindar. Numa imposição do destino, que chegou como dádiva.
Sou uma pessoa feliz. Sou mesmo, avô, porque conhecer-te, privar contigo e amar-te fez-me ter prazer na existência, crescer e receber lições de vida de que nunca mais me libertarei. Como âncora no fundo do mar.
Olha sô Carvalho, foste tão porreiro, tão porreiro que acho não há avô melhor no mundo.
Moras no meu coração para todo o sempre e quem me dera ser uma avó como tu foste avô. Só mais uma coisa, quero que saibas que toda a gente devia ter um avô assim, como tu…
m.c.s.

parabéns quim



De repente, olha o Quim. O rosto surpreendido diz: olha o Quim.Eu olho a televisão e digo Ah, é o Quim, pois é.
Agarro no comando e aumento o som. Para perceber o que está ele a fazer numa reportagem sobre Ciência a Rir. Investigadores fazem stand up comedy.Continua o mesmo. Com o mesmo jeito. O mesmo sorriso, a mesma voz. O tempo não passa por ele.Sorri satisfeita e...orgulhosa. Sim, orgulhosa. Como se fosse mãe dele, ou irmã mais velha, ou tia, ou sogra...
Há pessoas que entram na nossa vida sem o prevermos. Ocupam espaço. Saem do mesmo jeito, mas deixam-nos o lugar vazio. A vida pode correr como até então, podemos até deixar entrar outras pessoas, umas ficam e outras saem, podemos até nem pensar muito nisso, podemos até deitar para trás das costas, pois que na vida conhecemos tantas pessoas, gostamos de tanta gente, queremos outras tantas para amigas, e a vida corre sobre os dias, os meses, os anos...
Há quanto tempo não via o Quim? Há para aí uns quatro anos. 
De repente, olha o Quim. Olhei e vi-o e fiquei contente.
Hoje, em repetição na televisão, voltei a vê-lo. A falar. A explicar. A rir e até a fazer movimentos de dança. Lembrei-me que gosta muito de dançar. Vi-o dançar no aniversário dele há 4 anos, precisamente. Volto a sorrir. Como é bom poder rever alguém que está num projecto tão interessante, como ele o é, de resto. Parabéns, Quim. Para mim. Para o mundo J.P.N.

dia de Sant' Ana


fé e fotografia

Foi num domingo de cacimbo em setembro de 2008 que eu e a minha kamba fomos a Sant'Ana.

Parabéns avós


25/07 dia do escritor


quarta-feira, 25 de julho de 2012

férias são férias


Férias são férias…
E a gente faz o que apetece e pode.
Acordei às oito. Para ir para a praia. Demoro cerca de uma hora. Pois é, quando a gente não tem transporte, é assim. Às vezes penso no que perco, outras penso no que vocês, os que só sabem andar de carro, perdem. Ficamos empatados quase sempre, muitas vezes saio a ganhar. Quando chove, ainda não estou nos transportes e já perdi. É a viducha. Se tem remédio? É capaz de ter mas francamente sou hipocondríaca, mas não gosto de xaropadas. Já tenho amargos de boca que cheguem. Por isso, aqui vou eu cantando e rindo, o sono me apanhando e dormitando entre umas viagens e outras ou observando o circo que muitas vezes se monta  à minha volta.
Férias são férias e pressupõem praia. Parece um ritual. Coisa obrigatória. E eu fiz parte desse ritual que se não há praia não são férias. E então os que vivem paredes meias com o mar e a praia?
Mas, na verdade, eu gosto e gosto da ideia por mim vivida anos a fio, da família indo de férias para um destino de praia. Uma semana.  Duas. Tenho saudades disso. Disso. Estar na praia sem ter de enfrentar filas, trânsito, sem preocupações de horários, olha, vou ali e já venho dar um mergulho ( eu não sei dar mergulhos ), olha, vou a casa num instantinho, atravessar a rua e zás, um pé na praia e outro em casa. Olha, vão vocês que eu estou só a acabar o livro.
Olha, ó Deus do céu, não precisavam  ser os mesmos mas podias dar-me essa bênção de ir de férias em família por uma semana, só uma semaninha, não preciso descer a sul, Peniche está bem ok? Sou uma mal agradecida pois que depois de amanhã já rumo a essa praia com a metade da família que quero para fazer férias. Não se pode ter tudo…um dia consigo juntar os dois ao mesmo tempo e vamos.
Acho que estou com a melancolia e a saudade próprias de quem já tem dois terços das férias, passadas. E não cumpriu o ritual, esse mito, de férias, versus, praia.  Não tenho tido sorte. Ou muito vento. Ou muito sol. Ou água muito fria. Ou os três.  Ontem desforrei-me. Foi tudo perfeito. A hora, das 16 até fechar a praia a chave de ouro, os banhos, o lugar escolhido ( Tamariz ), o sol, a alimentação, líquidos, santo Deus,a líquidos o santo dia, como consegui essa habilidade, não sei, mas consegui e quando me deitei era a melhor amiga de mim própria e até me apeteceu dar-me beijinhos.
Por falar em amigas, uma amiga ligou-me quando estava na praia, já eram sete da tarde. Estou na praia, disse.
Fantástico, bom, que ótimo, ela é assim muito eufórica e bem disposta. Nunca me lembro da linha pá. Gosto tanto dessa hora na praia. Vem ter comigo, disse-lhe. Já é tarde. Não dá. Ela tem carro. Nunca é tarde. Sorri-me. Não dá…nunca é tarde Lídia, disse. Deu-me justificações, plausíveis. Continuei a dizer mentalmente, nunca é tarde, nunca é, nunca…
Ninguém gosta, quer dizer pouca gente gosta de ir para a praia sozinha. Eu também não gostava. Não sabia que gostava. Até passar a ir. Até ser obrigada a ir ou então não ir e ficar a ver outros irem.  A Lídia não foi ver o sol dar lugar à noite em frente ao mar, mas eu estive lá a usufruir desse momento mágico. E pensei, amanhã volto.
Afinal, não voltei. Apesar de ter acordado às oito para ir à praia.Tenho gente para jantar. Vou dedicar-me a isso. Também gosto. É igualmente mágico usar de arte na culinária e no final ouvir – Que bom! Está ótimo! E a mesa transformar-se no lugar onde pessoas que se gostam trocam ideias, contam planos, recordam sucessos ou insucessos, são família.  Também tenho de preparar a minha ida para o mar mais lindo desta terra e a ida a São Martinho do Porto.
Férias são férias e eu estou  bem. Sinto-me bem e ficava assim para sempre. Aqui está a conclusão feliz a que chego quando penso como vai ser na reforma. Estou no lugar onde vou ficar, a menos que me saia o euro milhões para a semana, ena pá, canário, isso é que era. Estou a viver uma vidinha que em nada ou quase nada será diferente, até já trabalhei para a SMS quando lhe tomei conta das crias e mais uma vez soube que ela ficou muito contente com a baby-sitter, moi meme. Não tenho gasto mais do que a conta, aliás tenho poupado muito, a diferença é que sei que no dia seis lá estarei a subir o viaduto. Aqui é que ela impeça, que é como dizem lá no Ribatejo.
Aka. Xiça, penico, já fiquei com brotoeja só de pensar . E logo agora que estou com um tom achocolatado na pele, próprio da praia e do sol, das férias…
Férias, são férias…

Afagos



A mãe afaga a menina
A menina afaga o cão
O cão afaga a menina 
E Deus põe a mão
Eu afago a saudade
D’ um tempo de ilusão
Sonho que eu embalei
Balancé da minha canção

Cresceu a menina
Partiu o cão…
Perdeu-se o momento
De inspiração

Volta tempo
Dá-me o tempo
Que voou p’ra longe também
Quero afagar a esperança
Quero-me de novo a criança
No eterno afago de mãe

m.c.s.

terça-feira, 24 de julho de 2012

a carta


Allô!
Esta carta é para ti.  Mas primeiro deixa-me fazer uma introdução, para ganhar coragem. Balanço. Para depois me atirar de cabeça. Sabes como é. Adivinho esse mergulho no mar da tua escrita quando leio as cartas que  partes, repartes e dás, depois de me baralhares.
Gosto de escrever cartas. Sempre gostei. Fiquei amiga p’ra sempre nessa eternidade mais próxima, que nos espera,   d´ algumas pessoas que também gostavam do prazer da escrita no papel de linhas, seguido do ritual de meter no envelope, colar os selos, com a língua, e deixar no marco do correio, feito espera até outro dia e oxalá, receba a minha missiva. E responda na volta do correio.
Os correios são um marco importante nas cidades. Saber onde fica o  tribunal, o mercado, a escola, a farmácia e o hospital, faz parte. A gente nem pergunta. Procura só com os olhos e acha. Há uma linguagem universal que nos faz encontrar caminho até lá. Com os correios é diferente. Mágico. Hoje está ali e amanhã está no lado de lá. Romântica, a ideia do carteiro batendo na tua porta e gritando – Correspondência! Carteiro…
Esta carta é para ti e tenho a dizer que já estou a ficar mais relaxada, mais incentivada, mais confiante p´ra começar. Bem sei que só a lês se te chegar às mãos. Mas há que ter fé. Embora que, os carteiros agora não se preocupam muito porque não nos chegam a conhecer nem de nome sequer, culpa dos contratos breves e não renováveis. Ok, não vou falar do sistema, nem do estado da nação.( se bem que acho que não é por aí que nos desentendemos ) . É por isso que  aquelas cartas que cantam bem mas não nos alegram, tipo pagamento de água, luz, gás, que é que queres? ainda sou à moda antiga, essas cartas às vezes, com estes novos carteiros, vão parar a mãos alheias e bisbilhoteiras que nos fazem contas à vida mas não nos pagam as ditas. Se participasse desses jovens contratados o que aconteceria? Oh, parece que sou bruxa! Levavam um chuto no cú, perdoa, eu não queria escrever palavrões, mas a situação atual, este meu jeito de me resvalar o pé para o chinelo, são culpados. Tá bem, tá bem. Eu sei que tu não tens culpa disso e sei também ser uma senhora no papel e cara - a - cara. Tête- à-tête como dizem os franceses, a olhar o teu rosto que me abstenho de lhe chamar charmoso, sou atrevida mas não descarada, a olhar nos teus olhos, bem no fundo dos olhos que eu não sou de pôr o olhar cobarde no chão, nem tu. E mesmo que isso não chegasse, aprendi a jogar ao sério naquela terra que me ensinou tudo o que é preciso para ser assim, como eu me vejo, e só não aprendi mais porque não sabia que ia deixá-la. Sabes como é. Quer dizer, não sei se sabes. Não me pareces um ser físico preguiçoso, como eu, que deixa para amanhã o que pode fazer hoje. Ou que faz tudo muito às pressas para ficar sem nada para fazer.
Mas vou mudar de assunto, porque já percebeste que só me estou a enterrar e ao mesmo tempo a empalhar, como é que se diz aqui? A encanar a perna à rã. A chover no molhado. Os carteiros que continuem os seus contratos e desta vez que não falhem e chegue a ti esta minha carta que parece até um parto difícil, um menino tirado a ferros, ou de cesariana, com tudo o que isso envolve, juro, nem sei o que me deu para te escrever. Atrevimento dirás, se é que vais dizer alguma coisa. Se é que vais abrir e entender este pedaço de vontade de comunicar contigo sem interferência de ninguém. Nem tua.
Que gozo me dá, saber que vou escrever até ao fim sem que haja um apagão, essa coisa dos tempos modernos, o clique do delete, por vezes conveniente e que dá um jeitão, olha, rimei, quem rima sem querer, é amada sem saber… ahahahahahahah, agora? Tarde piaste. Há quem diga que nesta idade, só sopas e descanso e … pronto. Que é que se há-de fazer?  Nada…
Nada? Não me conformo com essas bocas despeitadas, invejosas e mal-amadas. Nego-me a ser um processo prescrito, como há muitos nos tribunais. Ok. Mesmo trabalhando num, não vou falar do sistema. Nem do estado da nação. Mas isto é o que se chama, deformação profissional.
Olha, desculpa. Tá bom, eu sei que as desculpas se evitam, não se pedem. Este cliché tem o condão de me pôr em brasa. De me dar náuseas. De me fazer brotoeja, mas, eu sou um ser vulgar, não sou surda, leio, vejo, enfim, tenho os sentidos todos ( deus mos conserve e guarde ) e mais um, que dizem, exclusivo das mulheres e por isso também tenho desculpa não é? Quando te peço mil perdões é apenas pelo abuso. Pareço abusada, mas no fundo no fundo nem sou. É pena o fundo não estar no cimo que tu vias sem qualquer ginástica. Sei que deves estar a dizer – vou ali e já venho… aka! Sukuama!
Desculpa de novo. Ouço dizer também que as boas pessoas pedem desculpa humildemente. E também as dão. As desculpas...
Eu quero ser boa pessoa. Humilde? Ahhhhhhhhhhh, ok. Faz parte do crescimento. Uma coisa parece implicar a outra.  Tu deves saber isso. Tu parece sabes tudo. Parece sentes tudo. Parece queres sentir ainda mais. Pareces uma boa pessoa.
Neste momento, que estou pronta para começar esta carta, vou então te dizer  que parece atingi os meus objectivos.
Carta longa, esta! Não é de estranhar. Tenho uma amiga de infância que me disse na minha cara, olho no olho sem rococós que escrevo coisas tão longas que não tem paciência para ler. Fazer o quê? Amiga de infância é família, não dá para ficar ofendida e me zangar.
E tu ?  Leste até ao fim? É preciso ter coragem. Só podes ser boa pessoa. Ya. Obrigada.
Não te roubo mais tempo. Fica bem.
kisses
a de sempre
clara

segunda-feira, 23 de julho de 2012

quando vou para a gandaia...


Quando vou para a gandaia caminho assim, assim, assim…quando venho da gandaia, já venho assim, assim, assim…cantava gingando o corpo; ancas e bunda, como as moças mais velhas que passavam na frente da casa, a caminho da padaria e obrigatoriamente em frente à loja do sr. Marinho. No muro que dividia a loja da casa dos radiadores, o Júlio sentava-se e passava horas a fio na conversa com o empregado, adolescente como ele. O Júlio era o filho do sr. Marinho, colega de profissão do meu pai. Concorrentes, rivais, se fosse aqui nesta ervilha. Lá não. Chegava para todos. Eu que estava ali com tudo na loja, era cliente do sr. Marinho,da loja do Miguel, da loja do Alípio, da loja do Polícia na esquina com a Senado da Câmara e da loja do Careca, na Vila Alice. Corria-os todos. Cantando esta e outras músicas. Gastando as moedas de cinco tostões, dez angolares e no limite dois e quinhentos.
Estes  dois, Júlio e o ajudante do velho Marinho,  gostavam de implicar comigo e rir do meu jeito um pouco malcriado nas respostas e petulante nos gestos infantis de kanuca do colégio, ali mesmo ao lado dos radiadores e do lado da minha casa também. Todos vizinhos uns dos outros, afinal.
Eu era uma miúda morena, olhos grandes, magricela, pernas que pareciam canivetes, cabelo tipo beatriz costa, para consumição minha… e assunto arrumado, não falamos mais nisso que eu é que mando, dizia o sô santos quando insistia que não queria que  o amigo dele António barbeiro, se ia almoçar connosco ao domingo, me cortasse a franja pelo meio da testa que parecia uma besuga como a Fatinha, a Ana Maria e eu própria chamávamos quando as viamos  chegar das berças, todas branquelas, com as maçãs do rosto vermelhas, roupas de inverno e   sotaque estranho de palavras que não conheciamos. O que me safava era o meu jeito sotaqueado de muangolê, fruto de tudo e também do convívio intenso com  Sebastiana, filha da Alice e sobrinha da lavadeira Lucrécia. Na verdade, era prima, porque a Lucrécia é que era sobrinha da Alice, mas era mais velha e a Sebastina chamava-lhe de tia.
Tinha resposta pronta na ponta da língua e não me custava nada xingar de, filho da caixa, da polícia, vai para a tuge ou pior um pouco, acompanhado de aviões nas duas mãos. Ninguém me metia medo. Só sô Santos quando me arregalava os olhos e crescia p’ra mim na base da ameaça do cinto, parecia o mundo ia terminar ali na ponta do seu cinto. Aí sim, eu ficava pequenininha que nem formiga em dia de descanso. Depois voltava a crescer porque vergonha não tinha nenhuma e ia no meu caminho, pés descalços ou em chinelos de meter no dedo, saia plissada, oferta do tio Augusto, brincar para a frente do colégio e cantar, quando vou para a gandaia caminho assim, assim, assim…numa coreografia de provocar inveja a qualquer uma. E o Júlio ria, ria, no alto dos seus tenros anos de adolescente desengonçado, queixo de rebeca, pele pálida e olhos de gato, calções com suspensórios e sandálias de pneu. Onde vais Clarita? Eu parava de gingar, de cantar, olhava-o e respondia: vou buscar á diána ná pádária, e voltava a cantar toda peneirenta, mexendo e remexendo as ancas, quando vou para a gandaia caminho assim, assim, assim…
Esta estória já contei tantas vezes que parece não há ninguém que não a saiba. O Júlio ficou colado a esta lembrança para sempre, Deus o tenha. Já partiu. Do Satão para a eternidade. Quem me disse foi um ex-namorado, meu, não dele, grande amigo que foi depois, vejam só se eu algum dia ia imaginar, o Júlio, amigo do…ups, não vou dizer o nome porque meio mundo o conhece e ia ficar constrangedor, não p’ra mim, mas, sei lá, as criaturas ao longo da vida vão mudando e vamos que não queria que se soubesse que fui a “ miúda “ dele (? ) quando era unha com carne do Júlio e até foi este que lhe disse que eu era filha do sô Santos da loja, onde é que eu morava e até que me carregou no colo quando eu era candengue. Mania essa de todos os kambas de infância mais velhos, dizerem que me pegaram no colo, só porque me viram fazer aviões com os dedos, xingar aqueles que me provocavam ou cantar e gingar numa coreografia só minha, eu que inventei, quando vou para a gandaia caminho assim, assim, assim…  acho que este gostava de dizer isso no outro, para provocar, assim como os candengues fazem - Uôooooooo, eu  peguei, tu não!
Há uns anos atrás, por acaso, ou não, encontrei uma colega do liceu, a Lourdes Jerónimo, em Fátima. Vejam só! Naquele dia de Setembro em que os Retornados e suas famílias que já nem são, se juntam para lembrar os velhos tempos. A Lourdes que morava na Caop, ali perto do colégio da rua principal que vai para S. Paulo e antes de chegar aos Combatentes, não sei se o nome dele era  Santa Maria Goreti ou Santa Teresinha, havia dois nessa rua, a Lourdes, que foi minha colega no 1º A, acabadas de fazer 10 anos, morava mais perto da avenida brasil que dos Combatentes e nunca soube que era amiga do Júlio e sua família. Vim saber disso ali, naquele domingo de Setembro, quando me disse que estava num grupo de gente conhecida. E eis que de repente, fico na frente do Júlio. Desde 75 que nunca mais o vi. Já tinha mulher e filhos crescidos. Os meus eram pequenos ainda. Afinal não foi por acaso que pegou em mim ao colo. Era mais velho…
Nunca mais fui a esses encontros. Naquele ano aconteceu por acaso. Não era fã. Encontravam-se sempre os mesmos, no mesmo lugar, como guetos criados para se tornarem mais fortes. E o grupo de milhares de pessoas com o mesmo propósito, recordar Angola, matar saudades, reencontrar pessoas, subdividiu-se em células pequenas e fechadas. E eu não gostava de ir. Não pertencia a grupo nenhum. A minha turma estava lá na banda. Os meus amigos ficaram lá. Os que estavam cá também não iam. Mas nesse ano que encontrei a Lourdes e o Júlio, encontrei  o padre Luís, meu confessor, na igreja de s. Paulo, a pessoa que me deu catequese e contou a estória do Pinóquio. E santinhos com a oração respetiva e senti-me abençoada por Deus, tal a alegria. Até me apeteceu cantar, quando vou para a gandaia caminho assim, assim, assim…
Sou pessoa para gostar da gandaia. E a pensar nisto é que hoje senti falta do meu chão, minha avenida, meu porto seguro, minhas pessoas, minha canção…quando vou para a gandaia…caminho assim…assim… assim…
Desse tempo ficou-me a canção e dentro dela, emoções e profundos sentires.
- Onde vais Clarita?
- Vou buscar á Diáana ná pádária …quando vou para a gandaia, caminho assim, assim assim… 

navegar

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O fim de tarde na praia
Faz-se de silêncios
Muralhas e castelos
Elos
Canções de além mar 
Sonhos marcados na areia
Desejos de namorar
Faz-se d’andorinhas 
E gaivotas a esvoaçar
Alegremente
No apelo do tempo
Para  regressar
É no silêncio do fim de tarde, na praia
Que surgem estórias 
Algumas d’ encantar
Príncipes e Princesas
Bobos da corte e piratas 
Povo em vénias
Contra a maré, a remar
É no silêncio do fim de tarde, na praia 
Que solto amarras 
E me prendo no horizonte
Da minha estória
Atravesso a ponte
Mergulho de cabeça na memória
E sou veleiro a navegar


m.c.s.

Vida


O canto das aves
Desperta a minha pele
Os sentidos
E o instinto

O canto das aves
Desperta a vontade de ser
De estar
E de continuar

O canto das aves
Cala-se
E perde-se na noite
Eu  adormeço
E perco-me também

m.c.s.


presente

foto tukayana.blogspot
Não são lindas as minhas flores? Esqueci o nome delas.
Oferta, num mimo que me caiu tão bem, tão bem, que fiquei de lágrima no canto do olho.
Vale a pena dar e receber

sou elástica


Entro no comboio. Percorro as carruagens. Estão cheias. Páro e olho os lugares possíveis.
Não gosto de ir de costas para a direção que o comboio leva. Nem do lado contrário ao rio/mar. Retiro prazer descansando as vistas na paisagem. Como da primeira vez que viajei de comboio para Cascais. Aos poucos o Cais do Sodré vai ficando para trás. O Cais do Tabaco de onde venho. A cidade.
Vai cheio que nem um ovo. Porque se dirá isto? Tanta coisa que anda a abarrotar mas vai cheio que nem um ovo parece ser mais preciso. Turistas novos e pais de família de crianças pequenas e embirrantes. Deve ser do calor. E do tempo delas não ser o tempo dos pais. Aborrecem-me fedelhos birrentos. Os meus nunca foram. Não me lembro? Lembro sim. Não teria paciência para birras e provavelmente enfardavam umas galhetas a cada tentativa infeliz, a cada propósito de me chatearem a molécula. Depois vinham as senhoras da proteção de menores e zás, estava feita. Se calhar essas enfardavam também, que nesse tempo eu era,  não birrenta mas embirrante, direi mesmo, feroz, e só não mordia se não calhasse. Há uma miúda cheia de caracóis loiros que quase se deita no chão do comboio e a minha vontade é esticar os lábios em modo cu de galinha, pôr o dedo no dito e manda-la calar olhando-a bem nos olhos para que não restem dúvidas que não estou a brincar – ai, ai, ai a menina, mau mau, afinal o que é que se passa aqui? Pouca música que não há quem dance. E aposto que se cala. Na surpresa. Depois os decibéis subirão para o dobro nas costas quentes que sente, sentem sempre, de pai e mãe. Deixo p’ra lá, quem os fez que os ature. Vou procurar um lugar, ponho os fones nos ouvidos e cagari cagaró. Milagre! Fico surda. E não cometo assim um crime.
Já no metro vinham uns putos chatinhos e irrequietos que me desviaram a atenção do livro que me tem acompanhado. Hoje é dia. As famílias juntaram-se para me tramar. Mentira. Juntaram-se para um programa supimpa em família e bonitinhas foram  a caminho dos veleiros no Cais do Tabaco.Ou será Cais de Santa Apolónia? Ou há os dois? Eu acho que sim. Perdoar-me-ão a ignorância. Eu nem sou de cá e 10 anos a caminho da capital aos fins de semana e em férias, mais as vindas ao médico, ao Colombo, e mais uns lugares como discoteca Kandando, à Portugália, aos bifes, às festas a casa da minha kamba Milú, e uns fins de semana por outros na casa da minha comadre, compras na avenida de Roma, tudo isto em tempos que já lá vão, não fazem de mim uma lisboeta. Penso eu de que...
Também fui ver os veleiros. Sozinhinha que vale mais só que mal acompanhada. E não me demorei por lá porque as filas para os ditos cujos eram intermináveis e francamente não me apetecia estar calada muito tempo. Sei que há os da frente e também os de trás mas hoje não é bom dia para falar com desconhecidos. Eles estão numa de serem muitos felizes nos seus papéis de membros de famílias perfeitas, vendo veleiros fantásticos numa cidade  luminosa e quentinha. Tão quentinha que o sol me fez fugir a sete pés para a estação dos comboios para ir fazer o meu programa desejado neste sábado bonito.
Vejo ao fundo um lugar. Dirijo-me para ele. A miúda, mais ou menos da idade dos meus miúdos, talvez mais nova, sim, certamente mais nova, quando percebe que vou ocupar o lugar da sua mochila tira-a e coloca-a ao colo. E encaixa o seu braço direito que acaba no cotovelo, entre o corpo e a mochila. Meu Deus, como pode ser? Uma menina tão bonita, tão vistosa, com um sorriso tão bonito…
E sento-me. E penso naquelas pessoas que acham sempre pouco o que a vida lhes dá. E sinto-me pequenina. E o meu pensamento vai para o Paulo. Já no cais do Tabaco ao ver uma freira em cadeira de rodas pensei nele. Raios parta isto! Que bruxa má a vida é para algumas pessoas. Agarrei as minhas mãos uma com a outra. Para ter certeza de que as tinha.
Falando em mãos, continuo a cruzar-me com gente de mãos dadas. Parece perseguição. Que será isto? Ele é velhos. Ele é novos. Ele é até miúdos que largaram as fraldas há pouco. Será que o mundo tem andado de mãos dadas e eu não via? Ou é um sinal qualquer que não consigo decifrar? Sim  porque não sou eu a querer andar por aí de mãos dadas com um qualquer mafarrico só pelo prazer do carinho, da partilha, ou do parece bem.
Pois, pois, que há muita mulher que conheço que afirma que não acha piada nenhuma andar na rua de mãos dadas. Ou que não percebe porque os casais andam assim ou ainda no limite dizem que é só para armarem. que em casa é uma pouca vergonha. Amargas essas mulheres…não percebo. Um dia ainda hei-de pedir a alguém que saiba, que me explique porquê que fiquei de mãos vazias a olharem uma para a outra. Juro que tenho que perceber. Enfim, já lá vai o tempo em que eu gostava de andar de mãos dadas.  
Com mãos ou sem mãos, cruzes, com mãos, claro, Deus que me perdoe e guarde, a miúda vai aqui ao meu lado e eu já me estava a esquecer disso, ainda há quem diga que não tem sorte nenhuma. Como podem dizer disparates que são autênticas blasfémias? O que daria esta menina tão jovem para ter as duas mãos…bem, estou naquela semana em que sou feliz, a tal semana do mês em que a minha conta bancária atinge o auge e por isso e porque tenho duas mãos para agarrar este sábado maravilhoso ( graças a Deus ) e dois pés que caminham  à procura de momentos agradáveis chego ao destino bem disposta. Pobre é pobre, fazer o quê? A alegria dos pobres é a certeza de que o mundo não precisa de ricos.
O destino é já ali em Carcavelos. O que me deu para mudar de praia? Não deu. Nada. Fiz a vontade à cria que se fartou do Tamariz, do barulho dos miúdos, das conversas dos adultos ali a buzinarem-nos os ouvidos, do mar silencioso; na verdade o mar ali, porque se encurrala em pequenas baías cala-se e parece que estamos em frente ao rio, enfim, um sem número de desculpas para irmos para um areal que pode fazer lembrar Peniche, o Baleal, a Costa, o Meco, a Figueira, a praia das Maçãs e algumas praias do Algarve. Só que não sei se gosto. Estou sempre a pensar no arrastão. E cada grupo de mais de três criaturas adolescentes já é um arrastão que lá vem e me faz olhar o meu saco, olha se me levam o saco? Um sem número de objetos que me fazem falta. E se me levam os chinelos? Como vou para casa? Descalça? Há tempos dei como certa essa situação; a culpa? D' uns putos que se avizinharam da minha toalha e aí vai disto, pazadas atrás de pazadas, baldadas atrás de baldadas, castelos de areia de enfiada, parecendo bairro social, não sei qual o motivo de castelos de areia em série se a sua duração é mais breve que o voo das borboletas, vai daí e com toda essa actividade infantil,  os meus chinelos ficaram enterrados na areia e quando percebi que não os tinha só me apeteceu distribuir tabefes, nem a mãe escapando, que permitiu a brincadeira ali quase em cima da minha toalha enquanto eu me banhava. Telefonei à minha cria perfeitamente perturbada com a ideia de ficar com as cuecas na mão, quer dizer com os pés descalços e pior fiquei quando me aconselhou procurar uma chafarica  qualquer e comprar uns chinelos. Ora eu! Andar descalça no Estoril onde é que já se viu? Felizmente que a mãe das pestes encontrou os meus ricos chinelos. 
Bom, vamos a isto. Até à praia ainda são uns bons metros a pé. Quantos serão? Meio quilómetro em linha reta, provavelmente. É uma avenida. Não conheço Carcavelos. Apenas de passagem, de automóvel. Ah e há uns anos, talvez há uns dez, fiquei no hotel que dá para o mar, quando fui jurada no festival da canção de crianças e adolescentes, do Estoril. No casino. Quanta importância…viu-se quando me levantei no domingo e quis tomar banho e a torneira deitava água barrenta. O banho ficou prejudicado e a justificação foi que rebentara um cano e outras coisas que não prestei atenção e acabei a tomar banho em casa da cria pois que estava no 2º ano da faculdade e morava ali para a zona do Areeiro. Ainda não havia a casa do Olival Basto. 
Chego à areia. Descalço-me mas de imediato me calço. Está a escaldar. Em contrapartida a água é um gelo. 
Aguardo a minha companhia. Não tarda estará aí. Quero almoçar numa das esplanadas do paredão. Quero o prazer do sol no corpo. Quero umas horas de praia, porque mereço, gosto e posso. Tenho mãos para abraçar o sábado. Tenho pés para fazer o caminho. Tenho coração para sentir e o dia ainda não terminou. À noite vou jantar à esplanada da TimeOut na avenida da Liberdade e depois vou ver o fogo de artifício ao cais do Tabaco bem como os veleiros iluminados. Se é um programa pobre? É, mas rico que eu sei lá, porque me sinto uma rica pessoa. É um programa à minha medida e isso não há crise nenhuma que me roube. 
Sou elástica…  

Veleiros em Lisboa





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carcavelos

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

no dia dos Amigos



no dia dos Amigos

AMIGO, é espelho da minha Alma.
Não passo sem espelho...

m.c.s.

O homem da História partiu


" O historiador José Hermano Saraiva morreu esta manhã, vítima de doença prolongada, aos 92 anos. O antigo ministro da Educação faleceu na sua casa em Setúbal.Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas e em Ciências Jurídicas, o professor José Hermano Saraiva ficou conhecido pelos seus programas televisivos dedicados à História de Portugal. Antes de se dedicar à história nacional, José Hermano Saraiva ocupou o cargo de ministro da Educação entre 1968 e 1970. Envolvido na política, durante o Estado Novo, foi deputado à Assembleia Nacional, procurador à Câmara Corporativa e ministro da Educação. Esta sua presença em época salazarista ficou marcada pela crise académica, em 1969. Entre 1972 e 1974, o professor Saraiva exerceu o cargo de embaixador de Portugal no Brasil. Foi também professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, tendo acumulado a vida letiva com a advocacia.Mesmo tendo quem pusesse em causa as suas “histórias” sobre a história de Portugal, José Hermano Saraiva tornou-se numa figura apreciada em Portugal, bem como junto das comunidades portuguesas no estrangeiro, tido como o “conhecedor” de Portugal."

( Em minha casa, muitas foram as vezes, ao longo dos anos,  que fui dar com uma das minhas crias, senão as duas, vendo os seus programas em vez dos falados programas para jovens. Aprendi a apreciá-lo também por isso. Que a sua alma descanse em paz )

a actual baía de Luanda

A Diana Alves, uma menina minha amiga que vive em Luanda mandou-me esta foto sobre a baía de Luanda, hoje. Prestes a acabarem as obras e a ser inaugurada a nova baía. A nova marginal.  

da minha, das infâncias de todos nós


Que linda falua
Que lá vem lá vem
É uma falua
Que vem de Belém
Eu peço ao senhor barqueiro
Que me deixe passar
Tenho filhos pequeninos
Não os posso sustentar
Passará, não passará
Algum deles ficará
Senão for a mãe à frente
É o filho lá de trás

latas de leite moça são telefones


carrinhos de lata


Bombô e jinguba assando

 

DAVID GARRETT - Csárdás (Hungarian Dance), composed by Vittorio Monti.

tarde é o que nunca chega




Toca o telefone. Atendo.
- Dona Maria Clara?
Era a Sara. Conheço o número, de ter ligado, ontem. Conheço-a pela voz, um pouco sopinha de massa.
- Sim, bom dia, diga….
- Bom dia. Ontem falei com a senhora por causa duma reserva e fiquei de lhe dar a resposta. Liguei depois, antes de acabar o meu turno mas não consegui falar-lhe…era para confirmar a sua reserva, afinal temos quarto para a segunda noite.
- Sim, sim, eu vi a chamada. Obrigada. Liguei a seguir e falei com um colega seu que me confirmou  a reserva. E sorri.
- Ah sim? Espero que não tenha duplicado a reserva. Diga-me só qual é o seu apelido. Tenho sempre dúvidas. Por causa do apelido do ex-marido.
Ri-me de novo. E ela riu também. Já falámos sobre isso algumas vezes.
Percebi que sabia quem eu era. Percebi mas perguntei.
- Sei sim. É a senhora que costuma vir com os filhos e também com a irmã.
- Acho que está maria clara marques. Mas poderá estar maria clara santos.
- Ok. Vou ver…está Marques. Risos de novo. Então fica reservado o fim de semana a partir de sexta-feira. Já sabe como é. Então até…
Perguntei como estava o seu bebé. E despedi-me até uma sexta-feira destas para dois dias nesse lugar onde é sempre um prazer estar e ficar. Onde sou bem tratada. Tenho piscina aquecida interior e exterior à temperatura do ar. Jacúzi, sauna, massagens, um pequeno almoço supimpa e tudo isto na terra onde me sinto em casa, e que tem o mar mais lindo desta ervilha que dá pelo nome de portugal . Isto tudo graças ao presente de aniversário das minhas crias.
Ontem  apenas havia vago um quarto para a sexta-feira. Teria que me mudar para outro lugar no sábado. Muito mais caro. Se sou eu a pagar, apesar da minha pelintrice, não olho muito a isso, mais euros menos euros, poupo noutra coisa qualquer. Quando são outros, sobretudo se são gente minha, incomoda-me que gastem comigo mais do que é suposto. Achei por bem ligar eu e dizer-lhes que sou cliente habitual ( e sou, apesar deste ano só lá ter estado uma vez, por duas noites, três dias, dessa vez éramos quatro ). Podia acontecer que isso tivesse algum peso, ( muito cheia de mim, mas um pouco séptica ) porque não? Não conheço as práticas dos hotéis, mas isto está tudo em crise e uma coisa é o que consta da página na internet outra coisa pode ser a realidade.
Liguei e falei com a Sara. Não me dei muito a conhecer. Apenas disse que era cliente, a Maria Clara Marques, e que precisava de quarto para duas noites embora na internet já estivesse esgotada a segunda noite.
- Nesse fim de semana estamos esgotados. Não temos mesmo, peço desculpa. Até podíamos ter uma suite e ficava nela na segunda noite, mas não temos.
Fez um silêncio e disse a seguir: ainda não vi os e-mails todos. Pode haver uma desistência, havendo, eu telefono-lhe.
Cresceu a minha esperança mas ainda assim disse-lhe que não podia esperar até lá para decidir a minha vida, agradecia mas ia procurar outro hotel na cidade.
- Mas não. Eu telefono-lhe daqui por duas horas a dizer se há ou não há. Queria mesmo que houvesse uma desistência a favor da senhora, dona Maria Clara.
Passadas duas horas mais coisa menos coisa ligou mesmo mas eu andava de volta do meu almoço e não ouvi. O que aconteceu depois já aqui o disse.
O que não disse foi que liguei para um dos pagantes e disse: Já está. Consegui.
- Conseguiste? Como?
Habituada a que obtenha algumas benesses através de outros, isto, coisa mais simples não há, deixou-me com um sabor a vitória na alma que nem sempre acredita muito em si.
Consegui sim, ter três dias de férias na praia e estou muito contente.
O universo é meu amigo. As crias também. E a Sara idem.
E concluo que não se perde nada por tentar e…esperar. E tarde é o que nunca chega.

corda bamba




Cai a tarde
Coloco a máscara
Monto o circo
Rio palhaço
Sou actriz
Subo a corda
Corda bamba
Equilibro-me
Aprendi…
Cai a tarde
Desce a noite
Desmonto o circo
Sou o eco
Do meu dia
Desço  a corda
Corda bamba
Luz e trevas
Desce a lágrima
Tiro o lenço
Estendo a mão
No vazio
Cai a máscara
Mais um dia
Resisti…


m.c.s.

The Power of Words legendado pt

quinta-feira, 19 de julho de 2012

caminhos


Abro portas, fecho portas.
Sou inverno neste  verão
Chove nas minhas esperas
Caminho atrás de quimeras
E dou-me à exaustão
Que fazer do meu abraço
Do meu beijo e do silêncio?
Abro portas. Fecho portas
A todos os meus lamentos
Quero trancar a tristeza
Num lugar longe,
Esquecido
E poder ter a certeza
De que nada está perdido
Fecho portas, abro portas
No luar do céu estrelado
Afasto o vento do mal
Oiço a voz do meu amado
Ondas, kiandas e sal
Nos búzios a marulhar
Esse mar, o meu mar…
Quero a brisa da manhã
E o sol do meio dia
Mais que a promessa vã
Mais que fantasia
Quero a sombra da mulemba
E a acácia se abrindo à cor
Quero kizomba e semba
Quero  mais que um rubor
Quero morrer e renascer
P’ra sempre viver no amor…

m.c.s.

No metro

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presente de aniversário

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A Pitanga e o calor

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acordar



Há um milagre em cada manhã
Há uma prece
Um despertar
Uma esperança
No recomeçar…
Há rosas brancas
Gotas de chuva
Perfume
Jasmim,
Há borboletas
Neste jardim…
Há o sabor da fruta madura
Cheiro a café
Sono na esteira
Brinca o petiz
Castelos d’areia,
Há gente  na rua
Acreditando
O dia ganhando…
Há sorrisos no rosto feliz
Palavras bonitas
Escritas sem dor
A sorte chegando
Poemas chamando
Os prazeres  do amor…
Há um milagre em cada manhã
Há uma promessa
Um amanhã
De sonhos sem fim
Há o universo dizendo que sim

m.c.s.