terça-feira, 30 de março de 2010

Estevas



Subitamente, lembrei-me do meu pai. Eu era a sua fã número um. Da sua personalidade, do seu jeitinho de bom Caranguejo que era, dos gestos físicos, até dos espirros ( que herdei ) e da ingenuidade com que acreditava. Do seu desempenho profissional, do seu cuidado com a família, e com os conterrâneos. Gosto de falar dele. Já não doi. Não sei se por me achar mais imortal...Lembrei-me subitamente do meu pai porque vi estevas, umas flores brancas que aparecem nesta altura e têm um perfume singular, tão diferente que eu o reconheço de olhos fechados e acho sempre que cheira à Gouveia, aldeia do meu pai, ali onde Judas perdeu as botas, nos confins de Trás-os-Montes. Estes arbustos que se vêm pelos montes e serras, à beira da estrada e dão esta flor bonita e cheirosa, existem também no Algarve. Chegou a Primavera e chegaram as estevas. Já há muito tempo não as via...o meu pai ficará sempre ligado a estas flores e a mim que sou sua filha. Hoje vi campos de estevas e lembrei-me do meu pai e vou ficar assim muito tempo, lembrando o seu rosto, o seu sorriso, a protecção e a voz do amor que lhe saía da alma...

Maria Rita - Conversa de Botequim (Som Brasil)

A Net móvel

Arranjei um amigo do peito.
O director do hotel, que eu não faço a coisa por menos.
Quando aqui cheguei, não consegui pôr a net móvel a trabalhar.
E eu que conseguisse...não é meu irmão? É o que deves estar a pensar.
Só não vens para aqui escrever para não me envergonhares.
Mas como sempre, à primeira, não vai, tal como as chaves numa fechadura, e outras coisas básicas, que comigo não funcionam, vai-se lá saber porquê? Quê né?
Falei com o David ao telefone e disse-lhe que estava " nas amarelas " na tentativa frustrada de me ligar à net, já num pré pânico que também me é habitual, mas ele do outro lado, sugeriu-me que fosse á recepção e pedisse ajuda. Descartei essa hipótese, porque lá está, sentia um certo constrangimento de pedinchar um favor que me poria em causa as habilidades e quiçá a esperteza ou inteligência, mas o " desespero " foi tal, que engoli a provável " humilhação " e pûs-me ao caminho, que foi descer de elevador, que graças ao Senhor, este hotel tem escadas, não é como o outro, lá de Montpellier, e eu posso escolher, mas prefiro o mais rápido, claro, porque sempre são sete andares, e fingindo que estava habituadíssima a solicitar os favores da recepção dos hotéis, pûs o meu problema ás meninas. Chamaram um cavalheiro, aí para a minha idade ou mais velho, talvez, que muito simpaticamente ouviu o meu pedido e a minha queixa.
E com ar de quem até debaixo de água, como o Benfica, de olhos fechados e com uma perna às costas, sabia daquele ofício, tomou conta do meu aparelho e num ápice, vi aparecer o quadro que pede o pin.
Como fiquei feliz! Apeteceu-me dar dois beijos repenicados na cara do senhor, mas podia ser mal interpretada e cortei-me. Mas agradeci muito, muito.
Ainda ficamos à conversa, um pouco. O que não interessa agora aqui, mas o que sei é que diariamente me cruzo com o sr. director, e recebo um sorriso rasgado e votos de uma boa estadia e de um feliz dia.
Toma!...pois então.

As cerejas


Alguém me lembrou das cerejas...
E eu só de pensar nelas já estou a salivar.
Adoro cerejas.
Tenho no meu telemóvel, cerejas, como imagem escolhida por mim, quando o abro.
Não me importava que o meu nome fosse Cereja.
A Pitanga, a minha gatinha, só é Pitanga porque as frutas da minha terra estão primeiro, claro está, e Pitanga é um nome lindo. Mas se acaso tivesse outra gatinha seria Cereja.
Não vejo a hora de ter uma sacada de cerejas, tipo um quilo, só para mim ,e comer, comer como se fossem tremoços ( não gosto ), ginguba, castanha de cajú ou azeitonas ( das últimas, também não vou muito à bola ). Há prazeres na vida que quero eternos.
Saborear cerejas, é um deles.

Curiosidades????

" Os japoneses, são a maior colónia do Japão, no Brasil.
Não são chineses, com lojas de artigos copiados e rascas.
Dedicam-se à agricultura e à restauração.
Ainda bem que o Brasil tem japoneses em vez de chineses.
Não é como aqui...e a cozinha deles é muito melhor.
E até já há actores de telenovela.
Aquela menina lá, a Suzuki, que namorou com o actor português..."

Uma empregada brasileira de conversa pegada com dois colegas portugueses, falando alto e bom som para o povo que estava na sala do pequeno almoço. O povo a bem dizer era cinco ou seis pessoas, estrangeiras, e eu. Isto porque entrei a bater quase as 10 horas.
A mim tiram-me logo pela pinta e sabem que sou latina. Posso passar por espanhola ( anda cá o sangue nos antepassados ), italiana, ou portuguesa. O que eles não sabem é que também sou angolana...tinha que justificar no cabelo, no nariz ( bem, até que nem é muito afiadinho ) enfim, naquelas características que os fazem dizer que são " pretos " mesmo que apenas advinhem uma possibilidade de terem mistura.
Mas, como estava a dizer, conversavam animadamente como se não estivéssemos ali.
E tudo porque o futuro ( ? ) genro do empregado foi ao Brasil e não percebeu nada. Daqueles que vão para ver as brazucas, beberem umas caipirinhas, esticarem-se ao sol, comprarem as fitinhas para porem nos pulsos e trazerem para os amigos quando aqui se vendem ao desbarato, e havaianas que depois vendem cá mais baratas do que são vendidas nas lojas da marca. E puderem apregoar aos quatro ventos que já " conhecem " o brasil. Os pindéricos...
E terá dito que lá, no Brasil, é que é, de chineses. A dar com o pau.
O empregado, com sotaque algarvio, resolveu fazer disso um editorial, hoje, no café da manhã e a colega brasileira, de imediato repôs a verdade.
" Não são chineses. O cara viu mal. Confundiu por causa dos olhos rasgados. Ainda bem que não são. São japoneses "...
Nós aqui temos chineses e japoneses...em abono da verdade, prefiro restaurantes de japoneses, ou melhor, de comida japonesa, mas também gosto de comida chinesa e as lojas dos chineses, podem ser a mentir, mas às vezes dão um jeitão dos diabos. Quando as meias, mini, se estragam na rua, que bem que sabe entrar numa loja de chineses, comprar e calçar na primeira casa de banho que existe perto de nós...e os chapéus de chuva? E tudo o que não lembra ao diabo...
Eu até conheço uma chinesa que tem um filho que se chama Paulinho e me trata por "vizinha" ...

Primavera na Quarteira


































Na Quarteira é Primavera.
Os turistas são quase todos estrangeiros e as suas idades ultrapassam os 60 anos. São ingleses, ou a falar apenas inglês.
Andam de calções, cavas, e sandálias com as tradicionais meias por dentro a dar-lhes aquele ar de totós que eles tão bem envergam.
As esplanadas estão a meio gás, umas abertas e a maior parte ainda fechadas.
O tempo muito incerto, mas com boas abertas. Fazer férias nesta altura é relaxante e calmo. A quietude que há por aqui só é quebrada pelo som do mar. Intenso. A dizer-nos que existe, que interfere e que é poderoso.
Se eu mandasse, exigia viver em frente ao mar. Ter os dias de sol intenso queimando as águas salgadas e devolvendo-nos dos mergulhos de verão, as tardes anoitecendo idílicas e as noites de tempestade ou de lua cheia espelhando o mar e banhando-nos com a sua luz apaixonante e criativa.
Seria eternamente feliz. A momentos sempre raros e singulares, de harmonia e beleza.
Ficaria assim para sempre...

Esculturas na praia







São as esculturas que estão ao longo do calçadão da Quarteira.



Paisagem












Vila Moura. E o verde bem cuidado, que a caracteriza.

Condição




No verão, esta praia enche-se de gente que eu conheço.
Famílias inteiras, que aqui passam o mês de Agosto e a primeira quinzena de Setembro.
É bom estar aqui depois deste tempo de ausência e poder perceber que nada me impedirá de voltar a passar férias de verão neste lugar.
Sinto-me livre!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Mais um dia

O dia esteve muito inconstante. Tremido.
Vento, chuva e frio.
Por mim, também está bem assim. Não tenho nada para fazer que o tempo impeça.
O mar está cá todinho, à minha contemplação.
Fui buscar os doces típicos da praxe. Com amêndoa. Para levar à cria.
Aconselharam-me uma pastelaria nova. Os pastéis folhados com recheio de doce de ovos, são uma coisa...de ir às lágrimas. Quais travesseiros da " Piriquita, " em Sintra, qual carapuça. Estes são divinais, e a partir das 15 horas ( como dizem os meus patrícios em Angola ) são vendidos e vêm quentinhos. Podem dar voltas à barriga, mas isso... sujeitam-se. Não há bela sem senão. São os pastéis típicos de Loulé, para que conste.
Também já fui aos pastéis de nata,ao Beira Mar, tipo, peregrinação, promessa que tenho que cumprir quando aqui venho. Continuam do melhor que conheço e a arriscar dizer que são melhores que os pastéis de Belém.
Jesus Maria, os lisboetas vão deitar-me fogo mas, lamento, sempre pensei isto, e um dia tinha que sair o desabafo. Que eu e os segredos, já sabem que não nos damos.
A hora mudou e é estranho chegar às 20 horas e ser de dia.
Tanto que esperei pela mudança de hora e já cá canta. Como estou a gozar férias, é irrelevante, mas quando chegar a casa, como me vai saber bem, os dias maiores.
Estava para jantar no hotel. É bufet, poderá ser bom. Mas vi o " people " que aqui está e não me apetece.
São estrangeiros a parecerem lagostas, porque ficam ao sol, horas, na piscina. Devem rapar um frio desgraçado, mas insistem, insistem e usufruem. E têm já uma cor que parece que a pele já não vai suportar mais sol. São muito, muito antigos. Eles e elas. A cheirarem a mofo.
Ao pé deles eu sou uma jovem, vejam bem como eles serão...e depois do jantar, vão para o salão e ao som de música, dançam desajeitadamente, num ritmo que só na cabeça deles existe.
Eu não poderia estar junto deles porque me escavacava a rir, de forma que, não há jantar para ninguém, no hotel, claro está.
Acho que vou comer sardinhas. Adoro. E já vi que as há, num restaurante com esplanada, aqui no calçadão.
As minhas mini-férias estão a finar-se mas que têm sido um regalo, lá isso, têm.

Empire Of The Sun - Walking On A Dream w/lyrics

O meu domingo algarvio



















































































O Algarve que eu vim encontrar, depois de algum tempo de ausência.








Eu sou uma mulher, de sorte!

Passei um domingo fantástico.
Com duas pessoas mais fantásticas ainda.
Com ligações fortes a Luanda.
Ele, há uns meses atrás, mandou-me uma mensagem de Luanda, dizendo-me que estava na avenida Brasil... e fez-me chorar de emoção e fez-me pensar que às vezes me pegam ao colo e eu sou bafejada pela sorte de conhecer pessoas de bem, que valem a pena.
Ela, no verão passado, ligou-me querendo ajudar no propósito de eu alugar um quarto para as minhas férias de Setembro aqui em baixo, que ele não estava, mas estava ela e pôs-se ao dispôr.
E foi com eles que almocei, em Albufeira.
Inicialmente iamos comer peixe. Ali em cima da marina, uma obra que eu ainda não conhecia, e tive oportunidade de ver.
Mas porque a comida de Angola é o que é, ele lembrou-se de uns amigos que têm um restaurante e aí fomos nós comer moamba de galinha e feijão de óleo de palma.
Estava uma maravilha. Tal qual se come em Angola. O feijão era de chorar por mais. Apurado, como eu gosto.
Depois mostraram-me a parte mais recente de Vila Moura e por fim, levaram-me até aos pais dele.
Estes conheciam os meus escritos e gostaram do que leram, sobre Angola.
A mãe do João, fascinou-me. Conquistou-me completamente.
Dela falarei mais tarde, não quero nem posso deixar de o fazer. Há pessoas raras e esta senhora é-o.
Obrigada João e Paula pelo dia maravilhoso que eu passei junto de vocês.
Eu sou uma mulher de sorte.
Hoje, mais uma vez, percebi isso.

Anaquim - As Vidas dos Outros

Muito bom.

domingo, 28 de março de 2010

Pindérica

Tenho algo de pindérico.
Identifico os pindéricos num bater de pestanas.
Não sei se são pessoas de mesmos prazeres, que eu.
Sei que quando os manifesto, a eles, os prazeres, classifico-os de ...pindéricos.
E mudando um pouco de assunto, mas sem sair do que me propûs, devo dizer que não sou como umas amigas que tenho, que quando não " andam nas nuvens " estão em quartos de hotel, tratando-os por tu, portanto.
Não, não sejam maliciosos. A profissão das minhas amigas é nobre. Trabalham nos aviões...
E porque é que não sou como elas? É que, muito de vez em quando é que durmo num quarto de hotel. A última vez foi em Fevereiro último e se isto fosse assim como que servindo para fazer a média, até pareceria que sou uma habituê dos ditos hoteis, mas lamentavelmente, não. E porque o lamento? Porque gosto de hoteis. Adoro entrar num quarto e ver tudo muito arrumadinho, a cheirar a lavado, as cortinas a fazerem " pendant " com o resto da decoração, sempre ou quase sempre às riscas, ou às flores. Gosto de meter para o saco os sabonetes, as toucas, e todo o resto.
Gosto dos pequenos almoços.
Ui, gosto mesmo de abusar. Esquecer-me de dietas. Não é por ser de borla. Não o é. Pagamos sempre todo aquele festival de comida, em exagero, mas eu que até gosto de ser exagerada...
E gosto, porque não faço, rigorosamente nada. E isso é bom. E porque o que me leva aos hotéis é sempre, viagens. Logo, não há melhor que uma criatura viajar. Por isso gosto de hotéis...
Este onde estou, fica em cima da praia. Na rua de trás, fiz eu férias num apartamento, vários anos. Até há 3 anos atrás. E quando olhava o hotel, pensava que um dia ia querer ficar nele.
Foi um namoro à distância de uma rua apenas.
Há poucos dias, decidi e telefonei a reservar um quarto.
O empregado, fez-me duas perguntas inicialmente.
Vista para terra ou para o mar?
E eu quase não o deixei terminar a pergunta e disparei: Mar.
Depois perguntou se tinha preferência pelo andar.
E a resposta foi igualmente rápida.
O último.
Acabei de responder e de imediato me senti uma nova rica pindérica.
Nova-rica não sou porque sou uma tesa.
E deslumbrada, também não. Aliás não me costumo encantar como outras pessoas, muitas, se encantam. Mas férias, num quarto de hotel, com vista para este marzão que ainda é mais bonito agora que no verão, tira-me qualquer dúvida de que por vezes vale a pena sermos pindéricos.
Eu sou de quando em quando pindérica. Mas há mais. Os que assim que entram no Algarve, despem os casacos, vestem os calções e cavas, atiram o pé para o chinelo e desatam a comer gelados. E estendem a toalha e o corpinho quase nu e aí estão eles " rapando " um frio dos diabos, que o tempo bom ainda não se instalou definitivamente.
Não têm tempo de acabar com as gordurinhas supérfluas, celulites e afins e estatelam-se na areia como se fosse verão. Porquê?
Está calor de Primavera. E sol de Primavera.
Têm estado uns dias fantásticos, lindos, perfeitos...mas de Primavera.
Vivam os pindéricos! Pois então...

Não sou invejosa


Um dia, disse aqui, como o digo quinhentas mil vezes,e há mais de trezentos anos, que não sou invejosa, mas tenho inveja de uma única pessoa neste mundo.
José Eduardo Agualusa. Escritor angolano, que se divide entre Luanda e Lisboa. E que sempre que está em Luanda, fica num apartamento na avenida marginal, e escreve ali, olhando a nossa baía, o nosso mar. O mar que foi meu...
Hoje, neste momento, não sou nada invejosa. Se fosse fazer o teste no detector de mentiras, dava Zero de inveja.
Não sou escritora, como ele. Não estou em frente ao mar da nossa baía de Luanda.
Nem me divido entre Luanda e Lisboa.
Apenas sou, angolana tal qual ele é.
Mas estou a escrever neste momento numa varanda do quarto de hotel, ouvindo o mar e contemplando-o.
Não sou, e não estou, invejosa.
Tenho a alma limpa de pecados.

Tocando o Intocável


Bom dia!
Que belo começo de dia eu tive...
Em frente ao mar, literalmente.
O som das ondas, beijando a areia. O sol que ilumina o farol e os barcos iniciando a navegação.
As gaivotas que poisam na praia, tomando conta do espaço como rainhas.
No calçadão, ninguém.
A hora mudou, mas os corpos não conhecem o novo ritmo do dia e dormem, descansando da noite de sábado.
Eu, que acho um desperdício, dormir, acordei a tempo de ver amanhecer.
Vivi junto ao mar. Fiz férias ouvindo o mar, mas nunca tinha visto amanhecer, olhando o mar.
Nessa hora quieta, em que a noite parte de mansinho, afagando a terra e as águas salgadas deste mar que eu amo e dá lugar à aurora, definindo os contornos e as cores, devolvendo-nos à luz do dia,tornando os sons mais esbatidos, eu sinto-me o ser mais previligiado do mundo.
É-me dado poder viver isto e ter o meu coração apaziguado.
Estou tão perto Dele, que me sinto a pairar, leve como uma pluma...
Tocando o intocável...
Obrigada, meu Deus!

sábado, 27 de março de 2010

No Sul


No Sul o pôr do sol é assim.
Em tardes de sábado, de Primavera.



Episódio

O motorista, um homem novo, de estatura alta e com um ar tranquilo ( era só o ar ), trabalhava.
Aproximou-se um colega e ele disse-lhe: Viva à Páscoa, viva à Páscoa!
Então percebi que o homem estava nervoso. Eram mais que as mães de putos imberbes, a caminho das férias no...paraíso. Porque nem pais, nem irmãos chatos nem a santa terrinha. Só eles mais eles. Uma viagem de finalistas. E o motorista cada vez mais nervoso.
A mim, mandara esperar pois eu não ia para a terra dos putos e convinha que a minha bagagem não fosse misturada.
Quando finalmente estava tudo arrumado, procedeu à verificação dos bilhetes, dirigindo-se às massas. Sendo o autocarro de 2 andares, quis saber onde me sentaria. Estava rodeado de vários rapazes que faziam questões. Ouvi-o responder " lá em cima ". Poderia ser comigo, ou não. Voltei a perguntar.
O homem azedou, completamente.
Tive que responder. Não que me custe. Não que não goste de uma briga. Não que não merecesse.
Mas fi-lo de uma forma que nada já tem a ver com o passado.
Não estou para me ralar, para me cansar, para me desgastar. Tentei dizer ao senhor que não sabia se a reposta me fora dada a mim. Claro que o fiz da forma que mais gosto de o fazer que é irritando-os, e só porque se são mal educados levam o troco. Não há nada a fazer...
Disse-lhe que ele estava nervoso e que teria que ficar calmo, porque eu queria para mim uma viagem calma.
Bem, o sr. motorista espumou de raiva. Que se ao fim da viagem tivesse algum defeito a pôr que pedisse o livro de reclamações, que falava português correcto, e aí percebi que para além de nervoso, é complexado. A cor a ditar os complexos. É mestiço. A culpa da cor a manifestar-se.
Lá entrei, procurei o 45 no andar de cima e sentei-me.
A meio da viagem, parámos num área de serviço. Eu aproveitei para comer uma barra de proteinas e quando estava no último bocado, o senhor apareceu à minha frente. Pareceu-me mais calmo e apeteceu-me meter-me com ele. Perguntar-lhe se já estava melhor, mas abstive-me. Estávamos todos com cara de tacho, provocada pela viagem e por isso, só por isso, deixei-me ficar caladíssima.
Quando finalmente chegou a minha vez de dar por terminada a viagem, vi o sr. motorista com o meu troley. Agarrei-o e quando ia para agarrar no saco que anda sempre em viagem comigo, ele com o meu saco na mão mas sem mo entregar perguntou-me:
Já está melhor?
Ri-me. Eu?????????
Você é que estava mal disposto.
Peço desculpas, está bem? Os miúdos puseram-me nervoso. E esta noite quase não dormi.
Chegou um familar meu de Angola...
Você é angolano?
Sou. Porquê, você também é?
É, né?
Peço desculpas. Tenha uma boa estadia.
Apertou-me a mão, sorridente e lá foi a vida dele.
Ele há coisas...

Num ápice

Conheci uma menina-mulher, encantadora.
Minha companheira de viagem, desde Lisboa. Lado a lado.
Três horas e meia que passaram num ápice.
Não vi a paisagem, não ouvi música, não tirei fotografias, nem escrevi.
Que não se façam planos de viagens. Que não se programe nada...
A experiência diz-me que ser-se muito organizadinho, é uma perda de tempo. Num estalar de dedos, tudo se altera.
Desta vez, comigo, valeu a pena.
Se me perguntarem por que ponte passei, se pela 25 de Abril ou Vasco da Gama, não saberei responder. Não vi o Alentejo, não dei pela entrada no Algarve. Não vi... O exterior.
Vi uma menina doce, bonita, de pele branca e cabelo comprido. Jovem, com ar de boa pessoa.
Só um àparte,para dizer que " levou " comigo 3,30 horas, por isso é preciso ser-se boa pessoa...
Fez-me o favor de arrumar o meu computador, e o meu casaco, no sítio próprio. Daí á fala foram segundos. Vinha de Coimbra. É estudante de Ensino de... qualquer coisa... um curso novo, que na prática serve para leccionar.
Gosto de conversar com jovens. Gosto de jovens. Como as minhas crias...
Há viagens diferentes. Imprevisíveis. Felizes.
A minha, hoje, foi. Gaças à Catarina.
Podemos nunca mais nos cruzarmos, mas faço questão de não me esquecer de ti. Por isso estou a escrever.
Obrigada.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Mundial de artes marciais



Na cidade do Almonda está a decorrer o campeonato mundial de artes marciais.

Radio Macau - O Anzol

Férias

Vou fazer o que me der na real gana.
Levo um livro que ainda não li, máquina fotográfica, um caderno...
E o computador? perguntou a minha amiga.
Claro que levo.
Acrescentei - Pode faltar-me tudo, mas não troco o computador, por nada.
O Zé Manel, riu a bom rir. Porque não foi bem assim que eu disse isto. Foi de um jeito que não posso dizer aqui.
Ele, fez votos que eu descanse muito.
Ela, a minha amiga fez votos contrários. Nada de ler ( ela que frequenta o 2º ano de sociologia ) , nada de ver para dentro, tudo para fora. Esticar os olhos para tudo o que me for oferecido ver. Muita diversão. Olhar o mar e procurar algures algum daqueles pássaros de que eu falo tanto. Tive que a ajudar. Dizer-lhe, que são os albatrozes. E expliquei que só existem nos mares do Sul...
Gaivotas, pronto. Talvez um bando delas faça as vezes de um albatroz...
Eu, não creio, mas há quem diga, que quem não tem cão caça com gato. Se vir gaivotas ficarei muito agradada.
São aves pelas quais nutro muito simpatia.
Olharei as gaivotas...e lerei, e farei o que me der na real gana.
E o que quero mesmo é ir de férias estes diazitos antes da Páscoa.

Viajar

Apetece-me cantar Chris de Burgh, ...Were the traveller a goes, nobody knows...
Que é como quem diz: Vou bazar e não dou cavaco a ninguém... quase, que eu não sou bem uma traveller. Tenho crias...

Iguais

Há pessoas iguais.
Gente da mesma raça.
Podem não ser do mesmo género, cor, credo, idade, signo, mas são farinha do mesmo saco.
Dão luta.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Estórias de gregos

Na Antiga Grécia os mortos eram enterrados com uma moeda debaixo da língua.
Bizarro, não?
Coisas de um antigamente tão antigo que só quem estuda grego lá vai.
Tenho uma colega licenciada em grego, que me contou isto. Viu-se grega para arranjar emprego como professora de grego e resolver ser oficial de justiça.
Então, mas porque é que punham a dita moeda debaixo da língua dos defuntos?
Para pagarem a barqueiro.
O barqueiro, que faria a PASSAGEM...
Não se queriam almas, penadas, vagueando sem direito ao descanso eterno, ou a atentarem os vivos.
Ah!...a moeda era a que tivesse menor valor...claro!

Quotidiano

O " camarote " estava, esta manhã, irrequieto e divertido.
Sentei-me muito no meio desta diversão, porque o tempo estando mau, o autocarro enche-se de putos que não querem molhar-se a caminho da escola e este ia repleto de jovens.
Eles não se ralam comigo. Mais, ignoram-me.
Não sei o que se passa comigo, mas tenho chegado a horas. Tão a horas que um dos putos faz aquele sinal com a mão, muito cavalheiro, a dar-me passagem à sua frente.
Gosto. Gosto que me dêm passagem. Sinto-me bem tratada, com delicadeza. Que é o que vai faltando aqui e acolá. Não há como Luanda e os angolanos para no seu machismo tratarem as mulheres com esta deferência e outras.
Mas, então, uma vez sentada no meio dos imberbes tive que me sujeitar. Não, à presença mas ao seu linguajar.
E se eles têm a língua afiada e comprida...
Oiço-os todo os dias, vou perto deles, mas tão por dentro, nunca tinha ficado.
Hoje particularmente, estavam excitados. Percebi que o autocarro onde vinham, teve um problema. Um furo num dos pneus.
Diziam então assim:
Estava a ver que nunca mais chegavámos aqui.
Se perdessemos esta, a stora marcava-nos falta.
Sabes o que eu digo? Como dizem os mecânicos. A culpa é do carburador...

Quanto é que tiraste a Filosofia o ano passado?
Oito.
Então tens que tirar doze.
Como é que eu tiro doze?
Estudando...

Se Deus quiser, para o ano nesta altura já estou a tirar a carta e na faculdade, vai ser bués...

Essa gaja ainda anda na escola?
Ela vem para Torres, na camioneta, todos os dias.
Isso é para vir para o café.
Todos os dias?
Todos.
F.....que p...


Estás cada vez mais comprida, minha.
Qualquer dia vou p'ra te cumprimentar e dou-te uma cabeçada nas mamas...

Eh pá, esse gajo a jogar futebol é cá uma bicha!...

Eu é que não jogo mais futebol aqui.
Porquê?
No asfalto, meu, não.
A última vez, com as sapatilhas rotas, arrancou-me um bife...
Deixa lá que eu nesse jogo fiquei com menos 3 quilos de carne...

Depois, sairam divertidos e descontraídos, para mais um dia de escola onde pode acontecer de tudo.
No autocarro nada aconteceu de novo, até chegar ao emprego.

O Museu




Mais uma vez Paulo Flores E Doce Morrer no Mar

É doce morrer no mar...

Lello



Livraria Lello...Onde o meu pai fazia as compras para a loja. E para nós, seus filhos. Adorava entrar nesta grande livraria e percorrer todo o seu espaço. O meu pai relacionava-se bem com os empregados, sobretudo com um, nosso vizinho e que era cliente da nossa loja. Todos os anos, eu fazia questão de aqui vir, fazer as compras para levar para a escola.

Luanda do meu olhar